MANAUS – Ter o domínio da língua inglesa é importante para a comunicação em um mundo globalizado e cada vez mais conectado. Saber o idioma oferece uma série de oportunidades dentro do mercado de trabalho e do ensino, entre outros benefícios. Foi pensando nisso que a Fundação Amazônia Sustentável (FAS), por meio de um programa de voluntariado, está oferecendo um curso de inglês para jovens indígenas da etnia kambeba, que residem na comunidade Três Unidos, a 60 quilômetros de Manaus.
As aulas online e presenciais acontecem dentro do Núcleo de Conservação e Sustentabilidade (NCS) Assy Manana. A turma formada por 20 indígenas, entre 12 e 23 anos, recebe as lições de voluntários brasileiros e até do exterior, de países como Portugal, Estados Unidos e Inglaterra. De acordo com o gerente do Programa de “Educação para a Sustentabilidade” da FAS, Anderson Mattos, o curso à distância foi uma alternativa educacional desenvolvida para superar os desafios impostos pela pandemia do coronavírus.
“Esse projeto utiliza a mediação tecnológica para que os estudantes tenham acesso à uma formação que é muito importante, especialmente dentro de uma comunidade distante e com difícil acesso. Por meio do trabalho de voluntários, estamos oferecendo a possibilidade dos indígenas aprenderem um terceiro idioma, além da língua nativa deles, o kambeba, e o português”, explica o gerente.
Experiência
O gestor do NCS Assy Manana, Rafael Sales, destaca a importância do curso para a comunidade, localizada em uma região remota no Amazonas, onde as oportunidades de formação são escassas. “Queremos que os alunos tenham o mesmo engajamento e empoderamento de quem vive em centros urbanos. Por isso, além do curso de inglês, planejamos oferecer outros cursos dentro desse projeto, como informática, marketing, administração e contabilidade para pequenos negócios”, revela.
A escolha dos cursos é estratégica, já que a comunidade Três Unidos também é um destino turístico que recebe visitantes de vários locais do Brasil e do mundo. A ideia é que as aulas contribuam para a melhoria dos serviços de turismo da comunidade, engajando jovens e adolescentes indígenas.
Um dos exemplos é a aluna Neucilane Silva, de 16 anos. A jovem kambeba está aproveitando ao máximo o curso. “Decidi estudar o idioma porque é importante saber se comunicar com pessoas de outros países. Moramos em uma comunidade indígena que recebe várias pessoas estrangeiras, então precisamos desse conhecimento da língua para falar preços dos serviços, dar informações e conversar. As aulas estão sendo legais, estou evoluindo bastante e aprendendo várias coisas”, compartilha.
Intercâmbio
Os 10 voluntários do projeto da FAS são membros de duas empresas de impacto social, a Braziliando e a Karibu. Além de ensinarem inglês aos comunitários, os voluntários também aprendem com os alunos aspectos da cultura kambeba, como a língua, música, artesanato, pintura e vestuário. A proposta é que aconteça um intercâmbio de conhecimento entre os estudantes e pessoas de diferentes partes do mundo, possibilitado pelo uso da tecnologia, como explica a sócio-fundadora da Braziliando, Ana Taranto.
“Esse projeto de voluntariado, que vínhamos sonhando com a Karibu no formato presencial, acabou sendo iniciado de forma online durante o distanciamento social. Um dos benefícios da tecnologia é possibilitar essa imersão na cultura kambeba para pessoas que estão em diferentes localidades e o contato dos comunitários com voluntários que estão vivendo em diferentes países”, diz a empreendedora.