Portador de quatro mandatos como vereador de Manaus e dois como deputado estadual pelo Amazonas, o advogado Chico Preto (Avante) é mais um dos nomes que estão com os pés na largada para a corrida eleitoral de 2024. Chico está fora da cena política desde 2020, quando disputou a Prefeitura de Manaus. Em 2022, ele buscou o senado e não conseguiu seguir no pleito por imbróglios partidários.
Em entrevista ao Comun, o político avaliou a cena atual nas duas Casas Legislativas pelas quais já passou e analisou o desempenho do atual Governo Wilson Lima.
Acompanhe na integra:
COMUN – O senhor iniciou sua carreira na política aos 23 anos. O primeiro mandato é o mais decisivo? como foi esse início?
Eu nasci nu, sem mandato e sem ascendência política. Meu pai não era político, a política entrou na minha vida como um chamado, mas eu compreendi, aos 22 anos, que, na política, as minhas atitudes poderiam alcançar, fundamentalmente todos. Todos nós somos capazes de agir sobre a vida de um, de duas, de um grupo de pessoas, porém, se você quiser alcançar um grupo maior de pessoas, a política é uma ferramenta que te permite. Talvez num projeto de lei, talvez em audiências públicas que contribuam com a população, você pode falar sobre diversos assuntos, cobrar providências do Poder Municipal, do Estado, do Governo Federal. Então, eu comecei isso há 22 anos e comuniquei ao meu pai que disputaria a eleição. Foram quatro mandatos consecutivos, três mandatos de reeleição como vereador. E aí o povo do Amazonas me promulgou para a Assembleia Legislativa. Foram dois mandatos consecutivos. Eu não disputo a reeleição para o terceiro mandato. Em 2014, fico em hiato de dois anos. E aí, em 2016, eu tento a candidatura para a Prefeitura de Manaus e a gente não consegue. Em 2020, não conseguimos articular a condição partidária suficiente para a disputa eleitoral. Então, até 2020, eu não exerci mandatos eleitorais, dados pelo povo do Amazonas ou pelo povo de Manaus. O primeiro mandato é o mais importante? Foi o mandato que eu me deparei verdadeiramente com o que é a política. Quando você está fora, você tem uma noção. Quando você está dentro, você começa a se deparar com a política nua e crua, sem romantismo, sem realizações. Você se depara com uma política onde muitas pessoas mentem, muitas pessoas enganam, muitas pessoas não falam o que pensam, ou seja a política se descortinou para mim como um processo complexo onde você não precisa concordar mas precisa entender. Se você tem uma posição defenda-a: sim, sim e não, não.
COMUN – Qual é a sua leitura sobre quem está estreando no parlamento hoje?
Eu desejo a todos que tenham sucesso lá para aquilo que se propuseram a fazer. Lembrando, quando você é político, você não tá na sua casa e de repente vem o cidadão dizendo, olha, você precisa ir lá me representar, não é assim. Você vai às ruas e diz: eu estou pronto pra te representar. E pra você convencer as pessoas, você fala de muitos assuntos, você assume compromissos sobre vários assuntos, saúde, segurança, meio ambiente, você vai assumindo vários compromissos. O que eu espero é que os estreantes desse processo não se afastem dos seus compromissos. Certamente eles perceberão dificuldades, que a realidade é diferente da teoria, eles perceberão, mas isso não pode ser razão para que eles endureçam, para que eles desanimem. É o que eu desejo nesse início de mandato, que eles tenham perseverança, convicção para lutar e defender com clareza aquilo que se propuseram a fazer para os seus eleitores. A política hoje, ela tem um instrumento que alguns anos atrás eu, por exemplo, fiz campanha distribuindo santinho em preto e branco. Hoje você faz campanha distribuindo mensagem pelo WhatsApp. A dinâmica mudou. Essa dinâmica da tecnologia, ela te permite uma compressão maior, mas a essência é a mesma. Você tem que dizer para as pessoas que você está preparado, que você tem comprometimento para representá-las. Então, hoje você faz isso pelo WhatsApp, pelo Facebook, pelo Instagram, mas a essência é a mesma. É independente da tecnologia que eu utilizava. Eu espero que eles exerçam o primeiro mandato, que não esmoreçam, não sucumbam às dificuldades e os encantamentos do processo político. Os encantamentos do processo político, assim, bem prático é aquela história de ser “rapaz, não mexe com isso agora não, deixa para a tua reeleição fazer alguma coisa, as vésperas da eleição, para que você não se desgaste com isso, para que você não se canse”, você precisa manter um trabalho contínuo de quatro anos, com as suas pautas e com os seus objetivos, usando os instrumentos do mandato, nas tribunas, projetos de leis, audiências públicas, mobilizando a população, mobilizando a sociedade para dividir contigo. Também para entender esse processo e dividir contigo a responsabilidade de alcançar algumas vitórias.
COMUN – Hoje o nosso parlamento com mais de 40 vereadores parece ter uma sanha em pautar assuntos na Casa onde não possuem autonomia para legislar. Como o senhor avalia o nosso parlamento? caiu em nível de proximidade com a população?
Um exagero de homenagens que hoje são feitas tanto na Assembleia, quanto na Câmara, desvaloriza a própria homenagem. Acho que é preciso repensar porque aquela história, se muitas pessoas estão recebendo a mesma homenagem, na minha opinião, ela perde o valor. Tal assembleia poderia tomar essa pergunta? Poderiam repensar. Não estou diminuindo as pessoas que receberam, mas realmente os seus divórcios no debate dos problemas objetivos, né? Mas reconhecer porque reconhecer problemas é importante. Reconhecer a atitude de homens, polêmicas que contribuem para a nossa comunidade é você também incentivar outras pessoas que façam o mesmo. Então, isso é uma atitude política que tem o seu valor. Agora eu falei, se você toda semana, todo todo mês, você está dando homenagem isso pode perder o valor. Eu acho que é isso que está acontecendo nesse Congresso. As homenagens perdem o valor, perdem peso. Então isso pode e deve ser discutido com relação a projetos que criam datas. Veja, nada contra a essas datas, desde que o projeto que aponta para aquela data verdadeiramente haja uma ação executiva após a sua aprovação. Se a gente for ver hoje a quantidade de projetos. Já deram cor para uma determinada situação em outubro, o laranja de julho e o que está faltando? Uma paleta de cores? já está faltando cores. Já começam a se repetir, não é? Acho que você precisa ter consciência do seguinte: eu vou propor algo e vou cobrar que aquilo verdadeiramente tenha uma atitude contínua sobre o assunto, porque só para fazer para gerar estatística… Eu tenho 300 projetos aprovados, mas e a efetividade disso? é questionar, né?
COMUN – Como o senhor enxerga o fato de Deputados Federais se comportarem como vereadores, e vereadores se comportarem como deputados federais?
Eu vejo com naturalidade parlamentares falar sobre pautas relacionadas ao Estado, mesmo quando estão em outras Casas. A Prefeitura, por exemplo, deve melhorar a saúde básica do município, porque se a saúde básica não estiver estabilizada, o que acontece? Os hospitais do Estado lotam por conta da ausência de uma providência aqui. Então, os deputados falam de ações municipais, os deputados falam de ações estaduais e federais, e eu vejo como isso é comum nesse processo. O que só não pode, a gente sabe, é que não posso apresentar um projeto de lei sobre aquilo. Mas se eu quero apresentar aquela história, dos parlamentos, existe um controle, o controle de funcionamento, o controle prévio, eles vão aparecer e dizer, olha, isso aqui não pode ser legislado pela Câmara, e aí você tira o assunto de pauta, mas o debate ele é dinâmico e, na minha opinião, a depender do momento que a gente vir, a gente precisa falar sobre ações. Os vereadores não vão cobrar do Governo Federal uma providência. Só que precisa de uma estratégia onde essa estratégia se torne eficiente para a providência. Por exemplo, eu acho que todas as câmaras municipais do Amazonas hoje, principalmente da região metropolitana, precisariam se unir num grande evento, num grande debate de um dia para manifestar através de redes sociais, documentos públicos para o Governo Federal tomar as providências que nós nos ressentimos.
COMUN – O senhor acredita que falta efetivo por parte da Assembleia Legislativa do Amazonas em torno da crise climática que estamos vivendo?
Eu desconheço algum deputado que corajosamente, com comprometimento, viesse a público e dizer, olha, eu tenho 20 milhões de emendas por ano, numa parte dessas emendas, eu desde já, quero direcionar para o Corpo de Bombeiros. A gente está vendo que o Corpo de Bombeiros parece não ter estrutura para enfrentar uma situação como essa, e se isso voltar a repetir, a gente vai estar batendo na mesma tecla. Então cabe esse questionamento, reforçar as estruturas do Corpo de Bombeiros, de repente a Secretaria Estadual de Meio Ambiente olhar para esse cenário, olhar para esse teatro, onde a gente pode reforçar, porque a nossa SEMAS, ou nosso IPAAM, é como se fosse o Ibama. Diante da possibilidade desse evento se repetir, e acho que vai se repetir, não sei quando, se vai ser 24, 25, 26, semanas mas vai se repetir e aí o dinheiro que é público, lembrando, o deputado tem a possibilidade de apontar problema e tentar resolver esse problema, aí ele bota um dinheiro ali, o dinheiro não é dele, não é do deputado, o dinheiro é público, mas com a gerência do deputado. Então, não me parece razoável que diante do que a gente está vivendo, o deputado estadual, o deputado federal, o senador, digo o seguinte: o dinheiro é público, o dinheiro não é das necessidades do deputado, o dinheiro é das necessidades da população. Eu gostaria de ver muito um deputado federal, um deputado estadual, mais do que gravar videozinho, narrando o assunto como se fosse um jornalista, o deputado pode ter a formação de jornalista, mas ali ele é deputado, ele precisa ser propositivo. Olha, eu tô pegando dinheiro aqui pra comprar barfador, pra comprar carro pipa, pra comprar um avião, um helicóptero, pra combater. Há instrumentos pra isso, que são as emendas parlamentares. Mas até agora, o que sinceramente vejo são deputados estaduais e federais fazendo cobertura jornalística. Isso cabe à imprensa, não cabe a quem tem um mandato com ferramentas como as emendas parlamentares à disposição pra tentar enfrentar o problema.
COMUN – O senhor já foi de bases, já pertenceu a oposições e já esteve na Presidência da Casa. Do ponto de vista de uma oposição, o que é fundamental para quem assume essa posição hoje?
Verdade. Você não tem que fazer oposição por um mero objetivo político. Você não tem que questionar por um mero objetivo político, você tem que questionar por uma verdade. Cada vez mais é perceptível que as pessoas estão enxergando isso. Aquilo que você se propõe a fazer. Cada vez mais as pessoas estão começando a entender. É um processo, às vezes é lento, mas eu percebo que um grande número de pessoas começaram a entender a ação de um político, os caminhos que um político percorre. O objetivo é trazer transparência, trazer luzes sobre o uso do dinheiro público, é sobre o que você está exercendo no mandato, então, são duas coisas totalmente simples. Quem usa da caridade para querer mostrar que está fazendo, a ação política, desculpa, você farisa isso, você é fariseu. A caridade não precisa ser mostrada, a caridade não precisa ser fotografada. Para ação política, o objetivo é mudar o comportamento, confrontar as pessoas para que reflitam sobre determinadas situações.
COMUN – Estamos acompanhando o seu movimento, mais voltado para a direita nos últimos tempos. Qual será sua estratégia nas próximas eleições? Que grupo Chico Preto deve fazer parte?
A direita e a esquerda é um fenômeno muito recente no Brasil, pois, até então, a gente via com clareza grupos de esquerda organizados, atuantes, você não via a Direita, você não tinha grupos de direita no Brasil. Em que pese o sistema político partidário, às vezes nos colocar diante de contradições, porque eu já fui filiado a partidos de esquerda, mesmo não apoiando causas que tradicionalmente fazem parte da esquerda, eu fui filiado a partidos de esquerda por uma questão de equação eleitoral. Aqui é mais fácil me eleger, pronto. Isso foi muito comum na vida, até do Bolsonaro. Eu fui filiado a partidos que não tinham nada de direita, mas é cultural. As pessoas, no Brasil, ainda não votam em partidos. Pessoas votam em pessoas. A cultura da ideologia do partido, eu acho que ela tá sendo construída mais à direita. Na esquerda eu acho que já tem essa cultura, mas a direita tá construindo, com firmeza, com insistência, construindo a cultura do outro lado, que, na minha opinião, pode só ter uma visão. Você tem duas visões se confrontando e permitindo que o cidadão tire suas conclusões. Então, a minha convicção, toda minha formação familiar, minha base familiar, ela é de direita, ponto. Ela é de direita, mas não é aquela coisa, como algumas pessoas insistem em me carimbarem, de direita raivosa, radical. A direita é que eu tenho convicções e defendo as minhas convicções com firmeza, mas incapaz de cometer uma injustiça ou fazer mal deliberadamente a quem quer que seja. Posso cometer uma injustiça no calor de uma determinada situação que é comum do ser humano. Mas também capaz de me redimir, de corrigir, sem abrir mão das minhas convicções. Posso errar na dose, depois corrigir. Sem abrir mão daquilo que eu acho correto e que eu defendo.
COMUN – Chico Preto vai caminhar com David Almeida nas próximas eleições?
É uma possibilidade, é uma possibilidade. A possibilidade é real, a reflexão ela tá sendo feita, ouço os amigos, ouço familiares, ouço apoiadores. A gente (Chico e prefeito) trabalha junto, em cenários. Eu não abri mão do processo político. A questão é, eu olho a possibilidade de representar o Amazonas num outro cenário. Para chegar nesse cenário, é preciso retornar para Câmara Municipal, para ocupar a tribuna, sabe, fazer uma tribuna firme, propositiva, ativa, corajosa, para que você seja enxergado por mais pessoas e aí dê um salto. Se esse for o caminho, eu venho disputar a eleição para 2024. Se a decisão for não, a gente pode seguir construindo e aguardando o ok, com essa reflexão mais fácil, essa consulta, amigos, familiares e apoiadores. Sigo no Avante por conta da relação pessoal com o David e outros membros. Mas é fato… Se ele mudar de legenda… É fato que eu, disputando a eleição, eu preciso encontrar um partido onde aquilo que eu falo seja aquilo que, se não no total, na totalidade, mas em boa parte, seja aquilo que o partido também acredita. Que haja o quê? Uma concordância entre o candidato e o presidente do partido. As pessoas que olham pra mim e manifestam a intenção de eventualmente votar em mim, precisam ver isso. É isso, infelizmente, eu não me encontro no Avante em nível nacional. O Avante em nível nacional está alinhado ao Lula e isso me cause certo constrangimento.
COMUN – Como o senhor avalia o governo de Governo Wilson Lima?
O grande feito do do Wilson Lima no primeiro mandato foi ter chegado ao segundo. Ele conseguiu todos os meios e atalhos que a política te proporciona. Ele conseguiu mobilizar políticos, ele conseguiu mobilizar as forças políticas, não é? que instrumentos ele utilizou até eu sei só de imaginar, né? Essa política complicada que a gente tem, mas ele conseguiu trazer para si aí um monte de gente para que o levasse até o segundo mandato, eu sinceramente espero que o segundo mandato ele, faça aquilo que não fez no primeiro. Eu vi esses dias ele se vangloriando pela ajuda que deu ao Amazonas Futebol Clube, mas eu queria que o Estado do Amazonas pudesse ter esse empenho. Porque mérito da ida é da direção do clube, né? Eles conseguiram levar o Amazonas FC agora para a série B, enfim… Alegria para muitos. Não vou dizer que para todos, mas para muitos. Mas eu gostaria muito de ver, por exemplo, a saúde e a segurança do Amazonas saindo da série D também. Chegando na série B, estar melhorando a saúde, segurança… Para isso, é preciso a convicção do governador em cobrar dos seus auxiliares. Alcançar quem mais precisa. O governador precisa ter comprometimento e firmeza. Dizer não, eu não vou sair daqui. Eu sei que ele vai comprar briga com algumas pessoas, mas é pra isso que você entrou nesse processo, entende? Às vezes é para comprar briga mesmo, você está lá pra dizer não, não só para dizer sim, não vou abrir mão disso, né? E fazer as responsabilidades básicas do governo, saúde, segurança e educação. Assim como a gente sentiu a Alegria do Amazonas na série B. A gente possa sabe ver que pessoas não estão, na espera há mais de 2 anos por uma cirurgia nesse exato momento.
Por: Jonas Wesley
Ouça a entrevista na íntegra: