A severa estiagem no Amazonas reaqueceu as discussões a respeito da recuperação de trechos da BR-319. Parlamentares do Estado voltaram a criticar a Ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima do Brasil, Marina Silva, por não priorizar a rodovia.
Em sua última visita à Manaus na primeira semana de outubro (04/10), por conta da seca e queimadas que vêm afetando o Estado, a Ministra voltou a ser duramente criticada e se defendeu relatando que a BR-319 “é um processo técnico: ninguém dificulta, e ninguém facilita”, e complementou alegando que “se a BR fosse fácil de fazer, talvez, nesses 15 anos, ela tivesse sido feita”, explicando brevemente um de vários fatores que impedem a pavimentação da estrada.
Para entender melhor sobre o motivo do “congelamento” da recuperação da rodovia, o Comun falou com o presidente da Associação de Amigos e Defensores da BR-319, André Marsílio, que também é professor da Fucapi.
O professor explica que questões ambientais impedem que o processo de recuperação seja retomado. Um termo de ajustamento de conduta que foi apresentado, e assinado na época do governo Lula, em 2007. “De lá pra cá, tem 400 quilômetros que precisam de estudo de impacto ambiental para poder emitir a licença de repavimentação desse trecho”, explicou.
Sobre as últimas declarações de Marina Silva, o presidente da Associação destacou: “Na verdade, ela esquece de dizer que foi na gestão dela que obrigaram a assinar esse esse termo de ajustamento de conduta. A documentação ambiental para construir uma estrada do zero é exigente demais no nosso país, e principalmente na Amazônia. E eles fizeram tudo isso para dificultar a nossa vida, para poder repavimentar uma estrada que já era pavimentada. Imagina só, essa aberração, existe o licenciamento para pavimentar? Uma parte da estrada e outra não, né? Isso é só no Brasil, único lugar do mundo que isso acontece”.
Impactos sociais e econômicos
Para Marsílio, a situação atual da rodovia dificulta ainda mais o abastecimento de comunidades localizadas onde a estrada passa. “Os impactos são gigantescos, você imagina a falta de materiais perecíveis que não podem chegar em Manaus por conta das balsa, e carretas com materiais perecíveis que eram para vir por balsa e estão vindo pela 319. O impacto social econômico é gigantesco para os municípios que estão na margem da BR-319. Economicamente, socialmente, que você acaba gerando renda econômica para os municípios de acordo com o consumo direto de viagens, de movimentação dentro da rodovia e nos municípios, gerando receita para dentro dos municípios”, finalizou.
Defendendo a repavimentação há 15 anos, Marsílio destaca que é possível aliar a recuperação da rodovia com a sustentabilidade. “A BR-319, em si, ali no trecho do meio, tem várias unidades de conservação. A maioria delas são de responsabilidade do Estado, e não é da União. Com a rodovia trafegável, tendo a fiscalização, controle de entrada e saída, a participação da União do Estado e do município, com certeza a gente teria esses focos de incêndio que vemos hoje bem menores. A gente [associação] acredita muito que vai resolver. Infelizmente, só enxergam a rodovia nos momentos de crise, mas estão vendo importância da 319 e a gente acredita na sensibilidade do governo em garantir essas licenças”, concluiu.