Manaus,4 de dezembro de 2024

“Estou preparadíssima para 2024”, dispara Anne Moura

Primeiro nome lançado para disputar a Prefeitura de Manaus nas eleições de 2024 pelo PT, a Secretária Nacional de Mulheres do PT, Anne Moura, se diz preparada para o pleito, mas que a definição depende do alinhamento entre direção estadual e nacional.

Em entrevista ao Comun, Anne, que também alcançou a coordenação do Fórum Nacional de Instâncias de Mulheres de Partidos Políticos, órgão que reúne mulheres de partidos diferentes, falou sobre a atuação de mulheres na política do Estado, de articulações com o governo federal, fez uma análise das gestões municipal e estadual e falou sobre sua vontade de disputar o mais alto cargo da Gestão Municipal.

Confira a entrevista:

COMUN – Amazonas foi um dos estados que menos elegeu mulheres nas últimas eleições, qual a sua avaliação sobre isso?

Tenho várias avaliações agora, principalmente porque eu consegui, recentemente, disputar o pleito como candidata a vice-governadora e vivi ali na pele o que é ter uma mulher numa disputa majoritária, ainda que tenha sido de vice, mas já é um grande avanço. Mas quando você olha para a representação política nas câmaras, nas assembleias, e aí eu falo da minha nova tarefa, que é ser coordenadora nacional do fórum de distâncias de partido político, a gente vê que ainda falta muito para a gente caminhar. Nós temos, claro, vitórias importantes, já conseguimos 30% da obrigatoriedade, 30% também do fundo eleitoral, porém ainda muito distante daquilo que a gente considera que seria o ideal na representatividade, uma vez que a gente tem, a maioria dos eleitorados são mulheres e a maioria da população também.

COMUN – Sobre o Fórum de Mulheres de partidos, como é a relação com parlamentares de outras legendas além da esquerda?

Eu já acompanho o fórum desde que eu fui eleita em 2017 como secretária nacional de mulheres do PT. Então, esse fórum reúne todas as mulheres que estão nas instâncias partidárias de direita à esquerda, todos os partidos políticos. Desde o início, sempre fui da coordenação, mais da coordenação regional aqui do norte, por ser daqui do Amazonas, e ter poucas mulheres no cenário nacional do norte, sempre eu fico com a responsabilidade de cuidar do norte, cuidar da Amazônia. E aí, recentemente, eu recebi o convite para assumir a coordenação e, assumindo a coordenação mesmo a gente passando por um processo de disputa muito polarizada, eu tive apoio do PL, do Republicanos, de vários partidos que, de certa forma, liberaram esse campo de disputa do nosso governo. Portanto, todas as nossas diferenças ideológicas e partidárias a gente deixa por fora da organização política de mulheres. Tudo que é de um acordo de avanço para as mulheres, a gente discute junto. Eu mesma voltei agora recente de Brasília e lá nós reunimos várias mulheres sobre a coordenação da deputada que é do PL, discutindo uma PEC que avança para um cenário de cadeiras fixas nas câmaras municipais, porque hoje a gente tem um cenário no país que existe câmaras que não tem nenhuma mulher vereadora. Então a gente está se unindo todos os partidos, o Fórum funciona para isso, para aglutinar essas mulheres, para a gente pensar junto alternativas de discussão de espaços de poder.

COMUN – Como você avalia a atuação de mulheres na política hoje no Amazonas?

Olha eu acho que algumas mulheres despontam nesse processo, de tentar se colocar como protagonista. Eu acho muito mais a Alessandra e a Joana Darc, elas que sempre buscaram fazer parte das alianças, elas se propõe a fazê-las buscam um destaque. A Débora eu não vi ainda, ela acabou de ser leita né? como a Joana e a Alessandra passaram já por outra legislatura me parece que para nós mulheres quando a gente entra, a gente também vai tentando se adaptar para aquela realidade, então os outros mandatos vai criando digamos assim, uma casca mais forte. Tenho muita expectativa de que elas possam representar as mulheres, porque não é só eleger mulher, é garantir o direito das outras mulheres que não estão naquele espaço de poder, porque às vezes tem muitas mulheres que se elegem, mas que passam longe de defender os nossos direitos. Então, eu vejo uma expectativa muito boa e espero que nesse novo mandato delas, todas ali, tem outras ali também, elas possam dedicar atenção à falta das mulheres. Alessandra, eu conheço, que se dedica muito, mas acho que essa é uma responsabilidade das deputadas, mas é uma responsabilidade também dos deputados. A gente precisa parar com essa lógica de que só se luta por uma causa se você atuar nela, não é verdade. A igualdade, a nossa vida de ser preservada, de a gente combater o feminicídio é uma responsabilidade de todo mundo, inclusive da Assembleia como um todo mundo.

COMUN – Na sua avaliação o governo federal já cumpriu o que prometeu em relação a diversidade entre espaços e ministérios?

Eu acho que o presidente Lula fez um esforço muito grande na composição do governo. É claro que nós, mulheres feministas, a gente tem sempre paridade a nossa igualdade vai na perspectiva de igualdade em espaços mas é a primeira vez na história que a gente tem um número de mulheres ministras em espaços também estratégicos agora. Essa é uma responsabilidade que não cabe só a nós, mas ao nosso partido. O nosso governo agora foi vitorioso a partir de uma composição ampla, democrática. E aí, quando os outros partidos vão compor, eles também não indicam mulheres. Então, fica muito difícil, e não é o presidente Lula que determina isso, qual é o partido que vai indicar. A gente não tem esse poder. Mas é uma pena, porque a responsabilidade não tem que ser apenas nossa, tem que ser dos outros que vão compor também. Só que nessa hora, meu amigo, aparece todos os homens para colocar o nome deles e eles se movimentam para tirar as mulheres, para ficar o nome deles. Isso é muito ruim, porque fragiliza aquele pequeno espaço que a gente já ocupa. Muito bem. Eu gostaria agora de trazer aqui para o Estado.

COMUN – Existe hoje alguma definição no ramo de eleições dentro da cúpula do PT?

A gente tem um indicativo organizado pelo nosso presidente, deputado Sinésio Campos, do sentimento da gente ter candidaturas próprias onde tem condições, tem um sentimento de defender o nosso governo, defender o presidente Lula. Agora, claro, a gente é um partido nacional, as nossas decisões passam pela avaliação da conjuntura nacional e é onde tiver viabilidade, portanto, nós vamos fazer. O PT é um partido de composição, nós não somos um partido que tenta isolar ninguém. E nós aqui, enquanto militantes, a gente faz a discussão, coloca o nome à disposição e vai construindo. Mas nós não somos daquela lógica radicalizada de que a gente não conversa com ninguém. A gente conversa com todo mundo, a gente só quer ser respeitada. Então o PT terá estratégia dele, mas respeitando o nosso tamanho e respeitando a nossa capacidade política. Hoje, pelo que está desenhando, a gente precisa reafirmar o nosso papel de protagonista. Nós não temos medo de chapa puro-sangue, não temos medo, porque nós temos programas de governos como a das nas últimas eleições, que disputou o deputado, o ex-deputado Zé Ricardo. Então, a gente fez um amplo processo de discussão. A gente tem algo para apresentar para a cidade, algo consistente de uma série de pessoas que sabem da nossa cidade. A gente tem um protagonista de governado, uma lógica participativa, trazendo as revisões de distribuição de riqueza que tem a ver com a nossa lógica socialista. Então a gente não tem medo. Se a gente tiver que ter candidatura própria por sangue, ótimo, o sangue já é vermelho, a gente vai por sangue, tá tudo certo. Nós não temos medo disso, até porque por muito tempo na disputa eleitoral o país inteiro não nos queriam como aliados. Sempre a gente ficava como o patinho feio e ficava de fora.

COMUN – A deputada Benedita da Silva anunciou sua pré-candidatura à prefeitura de Manaus aqui na cidade, isso ainda está de pé?

Está super de pé. Eu acho que não só Benedita, eu tenho rodado agora o país, tenho vindo a Brasília, tenho uma animação muito grande. Quando tem uma mulher na perspectiva de disputa majoritária ou de uma disputa que a gente pode mexer na estrutura de poder, todas as outras se animam. E a Bené é uma guru minha, é uma pessoa que me inspira muito, que rompeu muitas fronteiras quando diziam pra ela que nada era possível uma mulher vindo da favela, uma mulher que passou por muitas dificuldades, que foi empregada doméstica e ela venceu muitos preconceitos, muitas barreiras. Eu olho pra mim que vem daqui do coroado, que tem uma realidade parecida, vinda da zona Leste, Coroado, filha de mãe solteira, tem toda uma outra perspectiva. A única coisa que eu posso dizer é que eu estou à disposição do meu partido, à disposição da minha cidade, do meu estado. Esse é o combinado, inclusive, com o presidente Lula, com a presidenta Glesi, que eu estaria à disposição. Agora eu repito. Isso dependerá de uma decisão coletiva da direção aqui no estado e também da direção nacional. Mas eu estou preparadíssima.

COMUN – O que a senhora pensa para Manaus? O que a cidade precisa, na sua opinião?

Eu estou falando isso em vários lugares e já tenho a oportunidade de falar para alguns. Tenho visto, falado, uma lógica da preservação da Amazônia. E eu tenho o processo de assistência porque moro nessa Amazônia. Nós temos uma Amazônia que não conhece. Uma Amazônia que não conhece nada. Uma Amazônia que já está se transformando. Uma Amazônia que sofre com as desigualdades sociais. E isso se expressa também em Manaus. Que infelizmente a gente não consegue fazer algo que teria que ser crucial. Desde da primeira infância. É dizer que esse lugar, em meio à floresta amazônica, é um lugar que precisa viver com a lógica sustentável. E o que eu penso para Manaus é que a nossa cidade poderia ser, pode ser, tem capacidade de ser a capital que preserva, a capital da minha cidade, que são as formas de desenvolvimento, mas que preserva as pessoas, os povos, os originais, os poucos, e não tem modo que a gente fique aumentando a desigualdade pelo contrário. Nós queremos que seja uma cidade que tenha referência mundial, já que todo mundo olha para a Amazônia, mas eu exijo tudo para a Amazônia, para uma capital que seja da Amazônia, porque sem querer brigar, mas aqui é a capital da Amazônia, porque aqui tem florestas vivas e bem, e aqui está a maior concentração de povos originários.

COMUN – Qual a sua avaliação e a sua leitura em relação às gestões de Prefeito e Governador hoje?

Eu acho que as gestões agora elas vão começar porque, tanto o governador quanto o prefeito, que apoiaram o último, eu não vou nem citar o nome do genocida. Os dois apoiaram ele e ele perdeu a eleição, mas apoiaram ele numa conjuntura de que ele não dava nada, absolutamente nada. Virou-se a página, nós já lançamos o PAC, aí junto com o PAC vem o minha casa, minha vida. Esses dias eu vi uma série de entrevistas, tanto o governo do estado quanto a prefeitura de Manaus, como várias prefeituras do interior vão estar recebendo. Por  isso, a minha avaliação é que eles agora vão ter oportunidade de fazer gestão. Então, eu espero que usem dinheiro público com aquilo que precisa ser usado e que não escondam do governo federal, porque só vai funcionar a gestão, se botar pra funcionar pra valer mesmo, com entregas, porque nenhuma das gestões entregou absolutamente nada, mas com entregas reais a partir do incentivo do governo federal que é uma responsabilidade nossa não estamos cobrando por isso a gente só quer que seja reconhecido.

Confira a entrevista em áudio na integra:

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