Manaus,6 de novembro de 2024

Parlamentares usam termos inapropriados ao falar de grupos raciais

Parlamentares, representantes do povo, eleitos para defender os interesses da coletividade utilizam termos considerados inapropriados para se referir grupos raciais. No Amazonas, dois casos chamaram a atenção nos últimos dias.

Durante sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito das ONGs, que ocorreu no último dia 27 de novembro, a ministra do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, acusou o senador Plínio Valério de usar um termo inadequado ao se referir aos povos originários como “índios”.

Nesta quarta-feira (06/12), em sessão plenária na Câmara Municipal de Manaus, o vereador Sassá da Construção Civil usou o termo “escuro” ao se referir pessoas da raça negra. Ele afirmou: “Eu não sou escuro, eu sou branco, mas me considero igual a eles (negros) porque somos seres humanos”.

A mestre em Linguística e professora de Língua Portuguesa Seduc-AM, Thaise Ferro, explica que nem todo o discurso é aceito na sociedade. No caso da fala do vereador, a especialista comenta: “Nesse contexto há, claramente, um forte discurso racista, visto que o termo “mas”, conjunção opositiva, reforça a exclusão que o sujeito branco se coloca em posição ao sujeito negro, tratado por Sassá como “escuro”. Isso se dá pela forma como aquele que fala se vê em relação ao outro, o sujeito discursivo se coloca no lugar de uma posição socialmente definível e é desse lugar que diz, que enuncia. A produção do dizer, ligada à memória discursiva do sujeito, está relacionada com a imagem que tem de si, do lugar que ocupa, bem como da imagem que tem do outro”, explicou

Já sobre as declarações do senador Plínio Valério, a advogada indígena Inory Kanamari, presidente da Comissão de Amparo e Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas e Vice-presidente da Comissão Especial de Amparo e Defesa dos Povos Indígenas no Conselho Federal da OAB/AM, comenta que o comportamento do parlamentar é reflexo da falta de informação. “A branquitude que manda nesse país é mau educada, e tão pouco deseja se educar, ou se reeducar. O discurso racista, preconceituoso e xenofóbico do senador reflete o que ele e um pequeno grupo de pessoas brancas e elitizadas pensam sobre nós. O fato é que estamos aqui antes da chegada dos portugueses, mas seguimos sendo desconhecidos sendo estrangeiros em nosso próprio país”, pontuou.

Ela também explicou a origem da palavra “índio” surgiu quando os portugueses chegaram ao País e achavam que haviam chegado a Índia. “A palavra ‘índio’ é usada com muita frequência no estado do Amazonas, quando se quer xingar uma pessoa. Em um país que elege pessoas que se quer conhecem a verdadeira história de seu país, bem como não se preocupam em disfarçar a intolerância a nossa existência, só podemos ter uma única certeza, a branquitude hipócrita desse país segue ocupando espaços de poder e perpetuando a exclusão das maiorias menorizadas”, finalizou a advogada.

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