Parlamentares, representantes do povo, eleitos para defender os interesses da coletividade utilizam termos considerados inapropriados para se referir grupos raciais. No Amazonas, dois casos chamaram a atenção nos últimos dias.
Durante sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito das ONGs, que ocorreu no último dia 27 de novembro, a ministra do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, acusou o senador Plínio Valério de usar um termo inadequado ao se referir aos povos originários como “índios”.
Nesta quarta-feira (06/12), em sessão plenária na Câmara Municipal de Manaus, o vereador Sassá da Construção Civil usou o termo “escuro” ao se referir pessoas da raça negra. Ele afirmou: “Eu não sou escuro, eu sou branco, mas me considero igual a eles (negros) porque somos seres humanos”.
A mestre em Linguística e professora de Língua Portuguesa Seduc-AM, Thaise Ferro, explica que nem todo o discurso é aceito na sociedade. No caso da fala do vereador, a especialista comenta: “Nesse contexto há, claramente, um forte discurso racista, visto que o termo “mas”, conjunção opositiva, reforça a exclusão que o sujeito branco se coloca em posição ao sujeito negro, tratado por Sassá como “escuro”. Isso se dá pela forma como aquele que fala se vê em relação ao outro, o sujeito discursivo se coloca no lugar de uma posição socialmente definível e é desse lugar que diz, que enuncia. A produção do dizer, ligada à memória discursiva do sujeito, está relacionada com a imagem que tem de si, do lugar que ocupa, bem como da imagem que tem do outro”, explicou
Já sobre as declarações do senador Plínio Valério, a advogada indígena Inory Kanamari, presidente da Comissão de Amparo e Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas e Vice-presidente da Comissão Especial de Amparo e Defesa dos Povos Indígenas no Conselho Federal da OAB/AM, comenta que o comportamento do parlamentar é reflexo da falta de informação. “A branquitude que manda nesse país é mau educada, e tão pouco deseja se educar, ou se reeducar. O discurso racista, preconceituoso e xenofóbico do senador reflete o que ele e um pequeno grupo de pessoas brancas e elitizadas pensam sobre nós. O fato é que estamos aqui antes da chegada dos portugueses, mas seguimos sendo desconhecidos sendo estrangeiros em nosso próprio país”, pontuou.
Ela também explicou a origem da palavra “índio” surgiu quando os portugueses chegaram ao País e achavam que haviam chegado a Índia. “A palavra ‘índio’ é usada com muita frequência no estado do Amazonas, quando se quer xingar uma pessoa. Em um país que elege pessoas que se quer conhecem a verdadeira história de seu país, bem como não se preocupam em disfarçar a intolerância a nossa existência, só podemos ter uma única certeza, a branquitude hipócrita desse país segue ocupando espaços de poder e perpetuando a exclusão das maiorias menorizadas”, finalizou a advogada.