Manaus,23 de novembro de 2024

Nonato Caldeira: Zona Azul ainda sofre resistência

Alvo de recentes críticas por parte da população e até mesmo do parlamento da Câmara Municipal de Manaus (CMM), o Zona Azul se tornou tema de debates à respeito da eficácia e a sistemática adotada nas áreas que opera na cidade. Usuários criticam principalmente a falta de sinalização de vagas, segurança e a falta de fiscalizadores da empresa.

Vereadores estudam propor ao parlamento municipal o fim da cobrança pelos serviços e vagas na capital. Atualmente, o Zona Azul possui a autonomia de administrar o espaço público para estacionamento em regiões de forte comércio em Manaus.

Em entrevista ao Comun, o diretor-presidente do Zona Azul, Nonato Caldeira, defendeu que é necessário observar a autonomia do Zona Azul de maneira correta antes de qualquer crítica, explicou o método de trabalho da empresa e falou sobre a suspensão do início da implantação no Parque Dez. Confira:

COMUN – O que é o Zona Azul e que resultados apresentou até agora?

O Zona Azul é o principal e único programa da municipalidade de ordenamento de trânsito e do espaço público da cidade de Manaus. Ele foi implantado em 2018, deveria ter sido implantado em 2015, mas isso foi um atraso por parte do prefeito da época, da municipalidade da época. O Zona Azul tem por finalidade, primeiro, a democratização do uso do espaço público. A gente lembra que o Centro de Manaus, em especial, não só o centro, mas outros bairros, alguns ainda estão nesse verdadeiro caos, ninguém podia estacionar, o Centro estava falido, totalmente falido. Ninguém queria ir ao Centro da cidade de Manaus. Ele estava tomado de flanelinhas, tomado de marginais, pequenos assaltos, até grandes assaltos mesmo, e o Zona Azul veio para organizar. Então, hoje isto é real. Organizou o Centro, melhorou a aparência, trouxe sensação de segurança e a fluidez do trânsito. Então, antes era aquele caos, o pessoal estacionava em fila dupla, fila tripla, o trânsito ali era um verdadeiro gargalo, porque as pessoas ficavam rodando, rodando atrás dos estacionamentos. E isso desestimulava as pessoas de irem ao Centro da Cidade de Manaus. E o qual era o maior prejudicado? o comerciante. Hoje a gente tem um Centro diferenciado, organizado. Nós temos a sensação de segurança e o comerciante feliz. O comerciante, inclusive no início, foi contra, mas hoje eles são muito a favor do Zona Azul, porque realmente veio, organizou e trouxe a possibilidade do público manauara voltar ao Centro de Manaus e consumir no comércio.

COMUN – Uma das principais dificuldades apontadas pela falta de organização no Centro de Manaus era a falta de estacionamento em proximidades de lojas. Como o zona Azul contribuiu para isso?

Os próprios comerciantes e comerciários, eles ocupavam as vagas. Eles chegavam de manhã, colocavam o carro ali e só tiravam ao final do dia e aí o que que acontecia? Não tinha espaço para o cliente. No início, eles foram contra porque perderam a comodidade, mas aí eles foram se conscientizando de que a prioridade é o cliente, é o usuário. Então, hoje isso aí está muito bem conciliado. Nós criamos o que chamamos de bolsão em torno do Zona Azul. Esse bolsão permite que o comerciante, o comerciário possa estacionar com um critério diferente. O Zona azul prevê a rotatividade e só pode ficar na vaga três horas no máximo. Nos bolsões, o comerciante ou o comerciário pode estacionar e ficar o dia todo, que são áreas menos rotativas, com menos fluxo de veículo. Então, eles podem parar lá oito horas, que é quando começa o funcionamento do sistema, e aí eles saem no final do expediente e paga só metade da tarifa. Então, o comerciante tem esse benefício.

COMUN – O Zona Azul tem alguma estimativa de ser ampliado no futuro?

Junto com a própria municipalidade, a gente identificou algumas áreas para avançar, que são áreas de comércio, porque ele tem que ser implantado em áreas de comércio, ele não pode ser implantado em qualquer área. Então, por exemplo, Parque 10, Educandos, Manôa, a própria Manaus Moderna, naquela região que é muito tumultuada, e recentemente a gente vem trabalhando. O Parque 10 era para começar agora dia primeiro, mas infelizmente houve a interferência de um político da área lá, que talvez não entendeu o que é a importância. É claro que sempre quando se vai implantar tem os contras. Aí reuniu lá algumas pessoas, fez um abaixo assinado para ir contra a Zona Azul. Então, é uma pena que isso tenha acontecido, ele não entendeu a importância da Zona Azul e ele coloca em prejuízo um programa da municipalidade que vem trazer inúmeros benefícios para a cidade. Por exemplo, o comércio do Parque 10 está falido praticamente. Você não tem como estacionar ali, você passa direto. É muito difícil a gente conseguir uma vaga ali para estacionar. Por quê? Porque está acontecendo o mesmo fenômeno que aconteceu no Centro Manaus, as pessoas chegam lá, estacionam e só saem no final do expediente.

COMUN – O sistema foi implantado em 2018, como foi o processo de adaptação na capital?

A lei é de 2010, inicialmente, era para ter sido implantado em 2011, mas não foi. A instalação foi feita em 2014 para iniciar em 2015, só que em 2015 não iniciou, porque teve muitas contingências. Não sei se você lembra, houve a reforma do Centro Histórico de Manaus, a troca de piso, de asfalto, na Eduardo Ribeiro, enfim. Aí depois veio o ano político, aquela coisa toda que a gente sabe que é a política e tem muita interferência nos processos. Aí acabamos implantando, como disse, em 2018. No início, foi bem traumático. Aquela história, por mais caos que esteja, que as pessoas vivam, elas acabam se acostumando com o caos e isso gera uma zona de conforto. Então, quando a gente vai mexer nessa zona de conforto, quando a gente vai mudar isso, gera resistência. As pessoas nem sabem, muitas vezes, que está vindo para melhorar. Isso acontece em todo lugar em casa, acontece na empresa, você implanta uma coisa nova, a intenção é trazer melhorias, qualidade de vida, enfim, mas as pessoas estão realmente impregnadas, estão acostumadas, estão na zona de conforto. Então, isso gerou muito problema. Primeiro, com relação aos próprios flanelinhas. Nós tínhamos no centro da cidade de Manaus mais ou menos 3 mil a 4 mil flanelinhas que atuavam. Era uma briga por conta de carro. Obviamente teve a resistência dos próprios comerciantes e comerciários. E aí teve a resistência de alguns políticos da oposição, né, que os caras querem saber de bater, muitas vezes não avalia os pontos positivos do projetos, né, mas isso aí com o tempo a gente foi superando, aí o Zona Azul foi se tornando uma realidade e os benefícios foram aparecendo. A implantação foi de forma progressiva, nós começamos em poucas áreas e aí foi se avançando, porque o projeto começou para 3 mil, 3.100 vagas, e aí  fomos para 2 mil e pouco, aí completamos o Centro da cidade de Manaus e depois fomos e implantamos no Vieiralves. Nós temos hoje, no Centro, no total, 3.800 e poucas vagas, mais de mil e pouco no Vieiralves, dá um total hoje de 5.300 vagas, mais ou menos.

COMUN – Como está funcionando o sistema do Zona Azul atualmente?

O nosso sistema Zona Azul é um dos mais modernos do Brasil. Nós somos totalmente digitais. O que a gente recomenda para o usuário? Baixe o seu aplicativo, é muito tranquilo usar, coloque o seu crédito antecipado, para você não ter estresse, e você vai escolher sua vaga para seu carro, ativa a sua vaga, você mesmo faz tudo. Não deixe para esperar que você vai encontrar alguém lá para pagar, porque são muitas vagas para poucos homens. O contrato prevê um homem para cada 100 vagas, nós temos um homem para cada 70, nós temos até mais homens, mas não é suficiente porque eles têm outras atividades. Eeles não estão ali essencialmente para vender. Aliás, vender é uma atividade, vamos dizer assim, subsidiária. Eles estão ali mais para fiscalizar o sistema se está sendo utilizado regularmente. Então, o que a gente recomenda? Baixe o aplicativo. Aí você pode pagar no crédito, no débito, no Pix. Nós temos, ainda, pontos de vendas no Centro da cidade, no Vieiralves. Você pode também ir lá comprar o seu crédito se você for resistente e baixar o aplicativo. Nós temos o nosso site, que você pode entrar lá e fazer um cadastro e também pode comprar o seu crédito. Você pode estacionar e o nosso pessoal vai lá e faz a baixa. Até 2018, nós fizemos um acordo com a Prefeitura e ficou em R$3,50. Então, é uma taxa modesta para o que se pratica no Brasil. Lá fora é bem mais, é bem maior. Inclusive, cidades muito menor do que Manaus tem uma taxa, tem uma tarifa, a gente chama tarifa, mais alta.

COMUN – O Zona Azul disputa vagas com flanelinhas? é de autonomia do Zona Azul segurança e cuidar do veículo na vaga?

Não, nós não temos autonomia para isso, isso seria de autonomia do Estado mesmo, através da Secretaria de Segurança ou da própria Prefeitura, através da Guarda Municipal, enfim. Nós não temos essa autonomia, mas nós temos um relacionamento muito amistoso com eles (flanelinhas), sem problema nenhum. No início, a gente abriu vagas para eles trabalharem, nós temos funcionários até hoje que eram flanelinhas. Mas assim, não houve uma boa adaptação, aqueles que vieram trabalhar conosco não se adaptaram muito bem, porque estão acostumados autonomamente, sem regra muitas vezes, mas hoje a gente convive muito pacificamente, porque tem áreas que são de motos e essas áreas a gente não cobra, não é pago, e eles acabam trabalhando tomando conta das motos. Eles fazem a lavagem de carro, sem problema nenhum, o carro está parado lá. E mais ainda, nós não cuidamos da segurança do veículo, o propósito não é cuidar de segurança, nós estamos ali para administrar o espaço público, para que todos possam utilizar democraticamente. Às vezes perguntam: ‘mas se é democrático por que é pago?’ É exatamente por isso, porque antes de ser pago, só alguns usavam, hoje pago, todos podem usar. E aí eles podem, então, fazer a segurança, se você quiser, do seu carro.

COMUN – Existe algum regime especial do zona Azul para o comércio neste fim de ano?

Normalmente nesse período a gente aumenta a quantidade de pessoas. Nessas semanas a gente vem inclusive fazendo seleção e treinando pessoal, novas pessoas para atuar. A gente entende esse processo e mais ainda, a gente está evoluindo, tecnologicamente falando, nós estamos evoluindo para outras formas de pagamento, por exemplo, muito em breve, daqui a alguns dias nós vamos lançar o QR Code de pagamento e aí a pessoa quer pagar o seu estacionamento e não quer baixar o aplicativo, ela aponta o seu celular, a câmera, para o QR Code, mais facilidade ainda para a utilização do Zona Azul.

COMUN – Existe alguma estratégia para levar o Zona Azul para a zona Leste de Manaus?

É uma área também que carece da Zona Azul, principalmente ali a Grande Circular, que é uma rua de comércio. Embora ela tenha uma característica um pouco diferente, porque ela não há uma concentração, ela é muito extensa. Mas é assim, o que nós fazemos aqui é atender uma demanda da Prefeitura de Manaus. Não somos nós que chegamos lá e fazemos, enfim. Muito embora nós estávamos demarcando o Parque 10, é claro que a gente pode demandar no sentido de dizer, olha, essa área aqui tem viabilidade, pode ser implantada, mas quem decide é a Prefeitura. A gente pode  propor, sugestionar, mas não temos autonomia para dizer: olha, eu vou para ali agora, eu vou para lá. As pessoas às vezes até pensam, né, que a gente tem, por que vocês não vão para o tal lugar?. Então, nós propusemos já, no Parque Dez, eu falei que já estava em processo de implantação. Infelizmente aconteceu isso. E aí tem uma demanda da própria Secretaria de Feiras e Mercados para levar ali para a região da Manaus Moderna. E aquela região da Zona Leste também, eu penso que cabe ali, mas é um processo um pouco mais à frente.

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