O mês de setembro, conhecido pela mobilização pela prevenção do suicídio, chegou ao fim, mas as discussões sobre a questão é sempre necessária. Saber abordar o tema da forma correta é fundamental nesse processo de conscientização.
Durante Sessão Plenária que ocorreu na última segunda-feira (02/10), o vereador Luis Mitoso declarou que o suicídio é um ato “de coragem, ou covardia”, provocando reações nas redes sociais. De acordo com o psicólogo Racing Brito, o comentário é insensível e pode gerar “gatilhos” em pessoas que sofrem de ansiedade, depressão, e outras doenças similares.
O psicólogo ressalta o cuidado que o tema merece: “Quando a gente fala no suicídio, temos que analisar um pouco a situação para poder liberar falas. Quando falamos de uma pessoa que cometeu suicídio, geralmente, essas pessoas já vêm com uma doença psicológica, já vêm com uma ansiedade, de uma depressão. Então, a situação em si não é o suicídio, mas sim o quê que essa pessoa estava passando, [sobre] qual a dor que ela vinha carregando. Quando falamos em tirar a vida, temos as questões dos traços suicidas, dos pensamentos e ideias, porque quando uma pessoa tira a vida, ela não decidiu ali naquele momento que ela foi em certo local, ela pensou, planejou e aconteceu”, explicou o psicólogo.
Por trás do vereador, que é reproduzida geralmente por muitas pessoas, Racing vê uma superficialidade que deve ser combatida. “É muito mais profundo que a gente somente querer rotular como covardia, ou coragem, porque nós vemos uma pessoa em sofrimento, um sofrimento psicológico que ela vêm passando ali há muito tempo. Então existem pessoas que planejam o suicídio por anos, até que um dia, eles colocam em prática”, ressaltou.
Racing explica, ainda, que deveriam ser criados novos meios para que as pessoas que passam por transtornos psicológicos possam ser identificadas e ajudadas. “Acredito que a gente precisa criar políticas públicas mais efetivas para identificar essas pessoas, principalmente nas escolas, faculdades. Hoje, a gente vê que os dados de suicídio têm aumentado muito, principalmente aqui no Brasil. É importante o Poder Público, não só quando fala no “Setembro Amarelo”, mas estar atento a isso, porque a gente sabe que se for usar o exemplo da Ponte Rio Negro, praticamente quase todo dia, a gente tem algum registro policial, alguma situação de pessoas que se suicidam e outros que tentam, mas que acabam sendo salvas por policiais. Então precisam criar mecanismos para identificar essas pessoas, dentro de qualquer ambiente”, destaca.
Na visão do psicólogo, pronunciamentos semelhantes ao do vereador podem acabar afetando pessoas que passam por doenças psicológicas. “Nesse caso, a gente precisa entender e pensar na palavra empatia. Quando falamos em empatia, falamos de pessoas que se colocam no lugar da outra, que vão entender o sofrimento da outra pessoa, então quando não temos empatia, não entende o sofrimento, é muito fácil você julgar, você vai julgar por aquilo que você não tá entendendo. Seja de uma pessoa que tenha um poder de influência grande na sociedade, ou de uma pessoa que não tem essa influência, se não for uma pessoa que não tiver empatia, a gente não vai entender a dor do próximo”, completou destacando a importância das pessoas se informarem mais sobre o assunto para que seja identificada a melhor forma de lidar com ele.
Taxa de suicídio no Brasil
O Ministério da Saúde tem o registro de cerca de 12 mil suicídios todos os anos somente no Brasil. Trata-se de uma triste realidade, que registra cada vez mais casos, principalmente entre os jovens. Segundo os dados do Ministério, cerca de 96,8% dos casos de suicídio estão relacionados a transtornos psicológicos. Em primeiro lugar está a depressão, seguida do transtorno bipolar e do abuso de substâncias. Com esses números, o suicídio encontra-se entre as três principais causas de morte em indivíduos com idade entre 15 e 29 anos no mundo.
Disque 188: Centro de Valorização da Vida
Se você está passando por algum tipo de sofrimento emocional ou conhece alguém na mesma situação, procure por ajuda.
O Centro de Valorização da Vida (CVV) promove apoio emocional e prevenção do suicídio, com atendimentos gratuitos para qualquer pessoa. O centro também garante sigilo total e atende por telefone, e-mail e chat 24 horas por dia, nos sete dias da semana, pelo telefone 188.