Manaus,24 de novembro de 2024

“Doula não é parteira, mas as duas importam”

Michelle Portela

Se o parto é uma experiência extremamente feminina, a presença da doula durante o nascimento de uma criança reforça esse sentido. A palavra Doula vem do grego e significa “mulher que serve”, sendo hoje utilizada para referir-se à mulher sem experiência técnica na área da saúde, que orienta e assiste a nova mãe no parto e nos cuidados com bebê. Seu papel é oferecer conforto, encorajamento, tranquilidade, suporte emocional, físico e informativo durante o período de intensas transformações que está vivenciando.

Conversamos com Isabelle Coelho, uma das doulas mais experientes de Manaus, com atendimento domiciliar e hospitalar, para saber um pouco mais sobre essa profissão que ganha cada dia mais reconhecimento.

Doula Isabelle Coelho. Foto: Arquivo pessoal.

COMUN: Doulas são comumente confundidas com parteiras. Quais as proximidades e diferenças entre as duas profissões?
Isabelle Coelho: É comum haver essa confusão da atuação da parteira com a doula. A parteira cuida do fisiológico, ou seja, do bem estar fetal e materno. A doula cuida do emocional. É apoio contínuo, desde a gestação até o parto e pós-parto. Nós, doulas, cuidamos para que o parto seja uma experiência positiva, proporcionando alívio da dor sem o uso de fármacos. Usamos técnicas como massagens, aromaterapia, cromoterapia, técnicas de rebozo (uma espécie de xale usado para fazer massagens e induzir relaxamento). O mais importante, no entanto, é a preparação emocional para embarcar nessa jornada que é o parto e a maternidade. Somos um canal pra que a mulher se liberte dos medos e inseguranças.

COMUN: As pessoas tendem a acreditar que toda cesariana representa violência obstétrica. Que tipo de preocupação é preciso ter para evitar tal situação?
Isabelle Coelho: É importante lembrar que a cesariana é uma cirurgia que salva vidas, da mãe e do bebe. Mas no Brasil elas tem sido feitas sem indicações reais, colocando mãe e o bebê em risco. É importante se informar sobre as reais indicações de cesariana, sobre o processo do trabalho de parto, para que, por exemplo, uma bolsa rompida ou trabalho de parto prolongado não se torne motivo de alarde e acabe sendo pretexto para uma cesariana. Por isso, enquanto doula, busco informar a gestante sobre reais indicações e explicar as falsas, para que não se torne um medo.

COMUN: Doulas estão tentando regulamentar a profissão. Como está a situação no Amazonas?
Isabelle Coelho: Em vários lugares do Brasil já existem associações de doulas. Apesar de não ser regulamentada ainda, a profissão vem ganhando muito espaço no mercado. A Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde já reconhecem as vantagens da presença da doula no trabalho de parto. No entanto, ainda buscamos regulamentar a profissão. Algumas doulas do país estão tentando incluir as doulas na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), mas as burocracias ainda existem. Caso consigamos, a presença da doula nas maternidades será vista com menos resistência em relação a outros profissionais da assistência ao parto. Em alguns lugares, a presença da doula ainda não é permitida por lei nas maternidades. Em Manaus, a lei das doulas foi aprovada e nossa presença nas maternidades é permitida como profissional da assistência ao parto e não como acompanhante, o que garante que a gestante também possa contar com o acompanhante da sua escolha. Aqui em Manaus estamos caminhando para abertura de uma associação das doulas, passos pequenos, mas que logo se formalizam e nos fortalecem.

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