Mesmo atingidas pela seca mais severa dos últimos 100 anos, prefeituras do interior do Amazonas desembolsaram cerca de R$ 2,77 milhões, até o fim de 2023, para pagar cachês de estrelas do ‘piseiro’ e do sertanejo. Segundo dados da Defesa Civil, mais de 600 mil pessoas foram atingidas pela estiagem em todo o Estado.
O Comun listou algumas das cidades e dos shows que foram contratados durante esse período crítico.
Os shows foram contratados pelas prefeituras de Tabatinga, Novo Aripuanã, Itacoatiara, Manacapuru e Nova Olinda do Norte. Todas ainda estão em situação de emergência desde setembro, segundo a Defesa Civil do Amazonas. A festança ocorreu ao mesmo tempo em que a União concordou em gastar R$ 627 milhões para remediar os efeitos da seca. Ao menos duas das prefeituras que contrataram os shows já tinham dinheiro federal empenhado (reservados para pagamento), para ações de defesa civil, no valor de R$ 1,9 milhão.
Em Novo Aripuanã, município de 26 mil habitantes às margens do Rio Amazonas, a situação de emergência foi reconhecida pelo governo Federal por meio de decreto no dia 02 de outubro de 2023. Pouco depois, em 20 de outubro, a União empenhou a quantia de R$ 531,05 mil para “ações de proteção e defesa civil” em benefício da prefeitura local, comandada por Jocione Souza, do PSDB. No fim de agosto, porém, a cidade realizou a edição de 2023 do Festlendas. Foram contratados os artistas George Japa (por R$ 47 mil) e Israel Novaes (por R$ 238,6 mil).
Assim como em Novo Apurianã, a situação de emergência também já foi reconhecida pelo governo federal em Tabatinga e Nova Olinda do Norte. No caso desta última cidade, não foi possível descobrir quanto foi investido nos shows do Festival Folclórico de 2023, no começo de setembro. No dia 19 de outubro, no entanto, a União empenhou R$ 1.374.360,43 em favor da prefeitura, comandada por Adenilson Reis (MDB), também para ações de defesa civil.
Outra cidade amazonense, Apuí, gastou R$ 250 mil com o cachê do cantor Mano Walter. Ele se apresentou na 34ª Expoap, o evento agropecuário local, no fim de agosto. Embora tenha sido atingida pela seca, Apuí não vive uma situação de emergência – o quadro local é considerado de normalidade pela Defesa Civil.
Seca histórica
Segundo a Defesa Civil, pelo menos 633 mil pessoas foram atingidas pela seca até outubro de 2023. De todos os municípios amazonenses, apenas três não estão em situação de emergência. Na maioria deles, o estado de emergência foi decretado pelo governo estadual ainda em setembro.
Em várias localidades, os rios atingiram a cota mínima histórica – no contexto amazônico, isto significa dificuldades para transporte de pessoas e acesso a mercadorias. Na capital, Manaus, a estiagem já é a pior registrada em 121 anos. O rio Negro atingiu o menor volume de água desde 1902, quando as medições começaram a ser registradas.
O governo federal
O governo federal anunciou ações que somaram R$ 628 milhões para combater os efeitos da estiagem no Estado. As ações foram detalhadas pelo vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), após reunião com o governador do Amazonas, Wilson Lima (União Brasil) e vários ministros de Estado, entre eles Marina Silva (Meio Ambiente) , Rui Costa (Casa Civil), Renan Filho (Transportes) e Wellington Dias (Desenvolvimento Social).
O pacote de recursos inclui R$ 35 milhões para o Corpo de Bombeiros amazonense; cerca de R$ 100 milhões para a dragagem dos rios e R$ 232 milhões do Ministério da Saúde para a rede local. Além disso, o Ministério do Desenvolvimento Social, de Wellington Dias, liberou cerca de R$ 61 milhões para os municípios atingidos. A União também concordou em antecipar os pagamentos de R$ 100 milhões em emendas parlamentares para o Estado.