No cenário político amazonense, uma antiga e controversa prática que desperta debate na sociedade segue dando resultados. A articulação de familiares para assumir cargos políticos, fenômeno conhecido como “nepotismo político”, levanta reflexões sobre ética, meritocracia e a influência das dinastias familiares nas Casas Legislativas.
Enquanto alguns defendem a importância de laços familiares na política, argumentando maior confiança e continuidade, críticos consideram a existência de possíveis conflitos de interesse e a necessidade de garantir a representação diversificada na tomada de decisões.
Na Assembléia Legislativa do Amazonas (Aleam), alguns exemplos se encaixam nessa situação. O deputado Thiago Abrahim (União Brasil), que é filho de Mário Abrahim (PSC), o prefeito de Itacoatiara, a deputada Débora Menezes (PL) é filha do Coronel Menezes, o deputado Dr. George Lins (União Brasil), filho de Berlamino Lins, popularmente conhecido como Belão, e que já foi presidente da Casa, a Dra. Mayara Pinheiro (Republicanos) é filha de Adail Pinheiro, ex-prefeito de Coari.
Ainda na Aleam, também há figuras políticas com outros graus de parentescos como irmãos e esposa: Cristiano D’Angelo (MDB), irmão do atual prefeito de Manacapuru, Beto D’Angelo, Daniel Almeida (Avante), irmão do atual prefeito de Manaus, David Almeida, e Mayra Dias (Avante), que é esposa do prefeito de Parintins, Bi Garcia.
Entre os deputados federais, está presente Fausto Santos Jr (União Brasil), filho de Yara Lins, atual presidente do Tribunal de Contas do Amazonas (TCE-AM), que também possui uma irmã na Câmara Municipal de Manaus (CMM), a vereadora Yomara Lins. O deputado Adail Filho (Republicanos) é filho de Adail Pinheiro e irmão da Dra. Mayara Pinheiro. Já Átila Lins (PSD) é tio do Dr. George Lins e irmão de Berlamino Lins.
Na CMM, David Reis (Avante) é filho do ex-deputado Sabá Reis e Marcelo Serafim (PSB), filho de Serafim Corrêa.
De acordo com o sociólogo Luiz Carlos Marques, esse pode ser considerado um “fenômeno de transferência de poder político” e ocorre nacionalmente.
“É uma forma de se perpetuar no poder as velhas oligarquias que estão desgastadas frente à opinião pública ou que já não tem condições de continuar atuando diretamente na política. Todo este esforço é para manter intocáveis interesses de grupos que estão ou sempre estiveram junto do poder político e econômico. O nosso sistema eleitoral favorece essa lógica”, explicou.
Tradição política
O sociólogo explica que cargos políticos são repassados pelos membros da família com afins de manter uma tradição política.
“O sistema facilita a transferência de poder às famílias com “tradição” política, os chamados “clãs da política”. As elites visam, no fundo, o controle do Estado, para manter o status quo existente. Se observarmos os grupos que se revezam no poder, no Amazonas, entenderemos a sua influência e a lógica de acumulação da riqueza em poucas mãos”, reforçou.
Há famílias que, de acordo com o sociólogo, “vivem há séculos do dinheiro do Estado”.
“Para tanto, é preciso que estas famílias exerçam controle sobre todas as instituições, desde o executivo, passando pelo legislativo e o judiciário, chegando aos empresários e a grande mídia. Só isso explica o sucesso na transferência do poder a poucas famílias. Como exemplo podemos citar: Os Lins, os Josués, os Pinheiro e tantos netos, bisnetos, filhos, sobrinhos, esposas, que vivem há séculos do dinheiro do Estado”, finalizou.