O estado do Amazonas enfrenta atualmente uma das maiores secas já registradas na região, o que vem resultando em uma severa crise hídrica. Os impactos dessa estiagem são visíveis em diversos aspectos, afetando diretamente a disponibilidade de água potável, a navegação fluvial e a vida dos animais que habitam a região. Diante desse cenário, o Comun ouviu especialistas para entender se essa estiagem severa já havia sido detectadas nas previsões e o que pode ter contribuído para agravar a situação.
O meteorologista Renato Cruz Senna, do Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam), relatou que, desde o mês de março, já manifestava preocupação com a previsão climatológica para o período de vazante, devido ao fenômeno El Niño. No entanto, não havia previsão que a seca seria tão intensa.
“Antes do pico da cheia já havia indícios de um evento El Niño no oceano pacífico, o que indicava condições de redução das chuvas em grande parte da região norte. Posteriormente, nos meses de junho e julho, foi identificado que, no oceano atlântico norte, também estavam sendo observadas anomalias positivas de temperatura ou fator que concorre para redução das chuvas em nossa região. Então, desta forma, já tínhamos noção de ter uma estação seca mais impactada, porém, ainda não era possível prever toda esta intensidade que observamos agora”, comentou o especialista.
Fatores que contribuíram
De acordo com a pesquisadora em Geociências, Jussara Cury, ações humanas como as queimadas, podem ter intensificado os efeitos dessa seca extrema: “As ações antropológicas precisam ser reduzidas para diminuir os impactos das mudanças climáticas”, disse.
Jussara também destaca que a recuperação dos rios pode ser demorada: “Considerando que a vazante apresenta um período menor que da cheia, as descidas podem ser acentuadas. O que diferencia uma estiagem sazonal de uma considerada evento extremo seria a permanência do período de recessão. Normalmente, o período de chuvas recomeça em meados de outubro. Em eventos extremos há chuvas abaixo da média nas bacias que alimentam as principais calhas e as chuvas distribuídas demoram mais a ocorrer. Como os rios ainda estão em processo de vazante, até estabilizar e voltar a subir tem-se ainda pelo menos mais de 15 dias de descidas”, afirma.
Segundo o meteorologista Renato Cruz, a Defesa Civil do Estado do Amazonas já demonstrava preocupação com essa situação e também planejava ações para ajudar a população ribeirinha a enfrentar os impactos da seca.
A Defesa Civil do Amazonas informou que, com base no relatório do Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM), tem promovido treinamentos e orientações desde 2014 para a implementação do Plano Nacional de Contingência de Proteção e Defesa Civil, conforme previsto na legislação. Essas ações são realizadas regularmente, sendo a execução do plano de responsabilidade das prefeituras municipais.
Previsões do Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) apontam que toda a agressividade da estiagem que atinge a Amazônia neste ano pode ser responsável por um recorde e ainda deve se estender até o mês de janeiro de 2024. A situação de diversos rios estratégicos para a região é crítica, com vazões (volumes) que jamais foram vistas antes nesse período.
Por: Lara Brito