Participações femininas na política devem ter propósito e não podem ser apenas para cumprir a legislação. Esse é o posicionamento da professora e pré-candidata a vereadora, Cristiane Balieiro (MDB). Participante de pleitos em candidaturas a vice-prefeita, vice-governadora e deputada federal, ela avalia de maneira negativa o recém aprovado dispositivo na Minirreforma eleitoral que reduz cotas femininas em legendas partidárias.
Em entrevista ao Comun, Balieiro também falou sobre outras figuras femininas da política como Anne Moura (PT), Carol Braz e Alessandra Campelo (Podemos) e sobre as gestões do governador Wilson Lima (União) e David Almeida (Avante).
Acompanhe:
COMUN – COMO AVALIA A MINIREFORMA, QUE REDUZ A COTA DE MULHERES EM LEGENDAS PARTIDÁRIAS?
A minha avaliação é bem negativa. A gente tem aqui alguns pontos. Primeiro, quando a maior participação da mulher é colocada lá atrás, inclusive eu venho, eu sou um fruto disso também. Então, quando eu entro de forma mais efetiva na vida pública, eu venho nessa onda de ter a maior participação da mulher nas campanhas ocupando esses espaços, que são nossos, a gente não está tirando espaço de ninguém. É importante que deixe isso bem claro quando a mulher entra para a política, ela não vai tirar um espaço de ninguém, é um espaço que ela quer. Que a gente está começando e ainda muito timidamente. Agora tem uma série de problemas aí. Eu vou chamar de problemas porque eu já fui secretária municipal de outros partidos. Hoje eu acabei de aceitar o desafio de ser presidente municipal do MDB da Mulher. Então, a gente sabe, sem pensar na reforma, quais são os nossos maiores problemas? Os nossos maiores problemas são, primeiro, a mulher não quer entrar na política. A mulher não quer vir fazer política. Ela não quer fazer campanha, exatamente por isso que você acabou de ver. Você está vivendo, você está presenciando nesse momento de uma mulher que é política, que quer fazer política. Mas eu tenho que cuidar do meu filho, isso é um fato, não é o que eu acho, não. Eu vivo isso, essa experiência, ela é real. E quando a mulher tem que se deparar entre a maternidade, entre cuidar da sua casa, entre cuidar da sua família e a política, não tenha dúvidas. Ela sempre vai escolher a família dela. Como eu já fiz isso muitas vezes, então, na minha opinião, esse é o primeiro problema que nós encontramos. É este desequilíbrio entre fazer política, ter os nossos compromissos profissionais, porque a gente não deixa de ser profissional eu não deixei de ser professora. Então é esse equilíbrio difícil pra mulher. É muito difícil, é muito difícil em casa, é complicado, então esse é um ponto. Outro, muita gente não sabe começar. Por onde eu começo? Como é que você faz política? Como é que você faz uma campanha? Eu vou me colocar pra ser candidata, mas como é que eu me coloco pra fazer campanha? Então o fato é, a mulher não quer fazer política, ela não quer fazer campanha. Então, é muito difícil você trazer mulheres, convencer mulheres, mulheres com potencial, mulheres que têm força muito grande, que queiram entrar pra isso de vez.
COMUN – QUAL A SUA AVALIAÇÃO SOBRE AS MULHERES QUE OCUPAM ESPAÇOS NA POLÍTICA HOJE AQUI NO AMAZONAS?
A gente precisa ocupar mais espaço, mas não de qualquer forma. Temos que estar preparadas. Eu sou contra esse discurso, vamos colocar mulher por colocar. Não, não é bem assim não. Cada um de nós tem um potencial. Você tem potencial para alguma coisa, você tem potencial para acreditar, dar comunicação, colocar tudo dentro da alma, e tem gente que tem potencial para política. Então, são essas mulheres que nós queremos. Não é votar em mulher por ser mulher, é votar em mulher porque ela quer ser política, porque ela sabe fazer política, porque ela tem potencial para participar, para ser um legislativo, como vereadora, como deputada, ou mesmo um executivo, como prefeito governador. Eu gosto do trabalho de algumas deputadas, gosto de alguns posicionamentos. Gosto muito da forma como a Alessandra Campelo conduz algumas pautas, principalmente no que se refere à pauta da violência contra a mulher. Eu gosto muito quando ela faz, quando ela pontua essas coisas. Mas eu, Cristiane Balieiro, não consigo, hoje identificar alguém que exerça um papel e exerça brilhantemente, eu acho isso fantástico, mas eu ainda não consigo ter um ponto de referência. E aqui não é uma crítica particular a nenhuma das deputadas operadoras que estão aí. É apenas a minha posição pessoal. Eu, Cristiane, cidadã, qual é a mulher que eu olho e digo assim, cara, ela é minha referência? Essa mulher aqui que me inspirou, eu tenho pontos que foram me inspirando, pequenos pontos. Esse, por exemplo, da Alessandra Campelo eu gosto bastante da pauta feminina que luta pela questão da violência contra a mulher, porque também a minha bandeira, também a minha pauta, eu também luto contra isso mas eu penso que a gente ainda é muito tímida, a gente ainda tá muito devagar e é por isso que a gente precisa de mais e mais mulheres.
COMUN – COMO É A RELAÇÃO COM A CAROL BRAZ E ANNE MOURA? COMO OBSERVAR ESSAS FIGURAS NA POLÍTICA?
Eu estava me preparando para vir como candidata a deputado estadual, que é um dos meus objetivos. Eu pretendo um dia, se Deus e o povo permitirem, ser deputado estadual. E aí, quando eu venho para candidatura de vice-governadora, eu vejo, nossa, tem outras mulheres, tem outras mulheres concorrendo, tem Carol Braz, é claro que esses nomes, a gente que já é da política, já sabe que existem, né? Mas aí a gente vê a Carol muito forte, com um discurso muito bom, com um discurso muito afinado. E é através do discurso da Carol que eu conheço a Casa da Mulher Brasileira, porque a Carol bateu muito nessa tecla. E naquele momento eu falei assim: mas como é que até agora eu nunca soube do que é a Casa da Mulher Brasileira, né? E aí eu vejo também a Anne, grávida, quem é essa mulher?, quem é mãe, sabe o quanto é difícil. Eu achei que ela foi assim muito forte. Não sei se eu daria conta e, assim, acabou que surgiu de uma forma bem natural mesmo, bem espontânea, essa admiração e esse lugar, tipo assim: cara, acabou a eleição e agora? Foi algo mais ou menos assim, não foi forçado, foi bem natural, a gente marca um café, compra um café, e aí senta a Anne, senta a Carol Braz, e a gente conversa sobre isso, né? Sobre os nossos desafios, sobre as nossas conquistas.
COMUN – COMO FOI A EXPERIÊNCIA DE ESTAR EM UMA DISPUTA ELEITORAL COMO CANDIDATA A VICE-GOVERNADORA?
Bem, existe uma Baleeiro antes da vice governadora e existe uma Balieiro depois da vice governadora. Tem uma conversa minha com o Eduardo Braga que ela foi bem interessante. Depois de tudo que aconteceu a gente sentou e conversou, obviamente, né? Acabei indo para a MDB. Mas ele me falou assim, lá no meio da conversa eu digo para ele assim: eu lutei por isso. Eu lutei para estar aqui hoje dialogando com o senador. Um homem que já foi prefeito, que já foi governador, que já foi deputado, que é senador. Então um homem que já tem muita experiência. E ele olhou para mim e disse assim: sim, você se credenciou para isso! E aí a minha ficha caiu ali. Na verdade a minha ficha caiu ali. Então, assim, existe realmente uma Balieiro antes da candidatura de vice governadora e existe uma baleeira depois da candidatura de vice governadora. A gente quando entra. Isso é uma apuração, isso é campanha, a gente é, às vezes a mulher é mais emocional, então ainda tinha essa coisa mais romântica e hoje ninguém entende, não, temos que ser objetivos, a política ela é objetiva, a política é diálogo, a política é articulação, a política é saber dizer sim na hora certa, saber dizer não na hora certa, é saber o que é ruim, enfim, ela é um globo de tudo isso. Quando termina a campanha, que o meu candidato ao governo toma a decisão de ficar neutro e o meu partido, que naquele momento era PSB, toma a decisão de acompanhar a reeleição do governador. Eu naquele momento não queria, não conseguia, por muitas razões, acompanhar a orientação do meu partido, mas eu, como cidadã, como política, por tudo que eu tinha vivido, também não aceitava ficar neutra. Eu entendo que um político tem que tomar decisões. Eu acabei de falar sobre isso. Política é decisão. Ela vai doer? Ela vai ser certa? Eu não sei, mas você tem que arriscar. Você não pode ficar em cima do muro. Eu sou professora, professora não fica em cima do muro, então você tem que ter uma opinião. Então, eu entendo.
COMUN – VOCÊ FOI CANDIDATA PELO PSB E DEPOIS MIGROU PARA MDB. O QUE MOTIVOU ESSA MUDANÇA? COMO É A RELAÇÃO COM O SENADOR EDUARDO BRAGA?
Eu obviamente o conheci a partir da campanha, tem toda uma áurea que se fala porque ele é assim ou assado, mas assim, eu sou uma mulher que sou objetiva, sou professora, sou professora de redação, na redação a gente faz assim, me dá o tema e discorre sobre ele, não fuja do seu tema. Isso é objetividade. Existe um trabalho para ser feito. Balieiro tu tem que fazer suas provas, eu vou lá e faço minhas provas, você tem que aplicar, eu sou objetiva. O Eduardo Braga é muito objetivo e eu gosto disso, eu gosto da objetividade. A gente tem um trabalho para ser feito, é esse aqui, então eu sento com ele, a gente conversa e aí ele me pergunta o que você quer. Aí eu falo, eu quero isso aqui. Ele falou assim, então vamos fazer isso aqui. Casou, nós estamos pensando. É uma relação que ela ainda está…. A gente está se conhecendo, ainda. Estou aprendendo, mas assim, o pouco que eu conheci, é a objetividade dele, eu tenho gostado bastante. E assim, embora eu seja política, e política ela é feita de articulação, mas eu sou mulher. E tem uma coisa assim, eu tenho que estar bem. Não existe essa história de, ah, eu vou ficar num lugar, mesmo não estando bem, mesmo estando aos pedaços, não. Porque o meu emocional precisa estar bem. Eu não vou dizer assim, ah, não é, eu sou, essa sou eu. Eu me conheço a ponto de saber que, o partido em que eu estou, eu tenho que estar bem, eu tenho que estar bem tratada. Eu fui muito feliz no partido que eu me filiei, no partido que eu aprendi muita coisa, que eu maturei para alguns pontos por ser candidata à vice-prefeita, por ser candidata à deputada federal, por ser candidata à vereadora. Eu sou muito feliz, tem tempo que eu tive o PSB como o aprendizado. Não há ressentimentos, não há mágoas. Mas hoje eu entendo que o meu lugar é no MDB e eu estou muito feliz lá.
COMUN – NAS ÚLTIMAS ELEIÇÕES O MDB NÃO TEVE CHAPA FORTE PARA VEREANÇA. QUAIS SÃO AS MOVIMENTAÇÕES PARA AS PRÓXIMAS ELEIÇÕES?
Eu sou pré-candidata a vereadora. E aí tem uma coisa engraçada na minha história. Em 2016 eu entrei, eu me filiei em 2015 e me preparei pra ser candidata a vereadora. E aí eu sou convidada a ser vice-prefeita. Ok, aceitei. Em 2022 eu me preparava pra ser candidata a deputada estadual, me convidaram pra ser vice-governadora. E eu aceitei. Então eu deixei muito claro pro senador, pro MDB, eu não quero ser vice de nada não. Eu quero ser candidata a vereadora. No futuro, claro, a gente sempre vai conversar e receber as orientações do partido, de quem já tem mais experiência. Mas o meu objetivo é esse. Sim, eu sou ciente do papel do partido que eu estou, como é que está, não me arrependo. Aliás, eu vou pra minha quinta tão forte. Eu não posso mais ter ilusões. A gente tem que ir sabendo daquilo que é real. O que é real? Existe a possibilidade de ganhar? Existe. Tem uma fala que a gente diz aí, se você é candidato, existe a possibilidade de você ganhar. A gente viu na própria história do governo do Estado pessoas que não tinham pile nenhum pra ser X ou Y, governador ou deputado, e ganharam. E estão aí. Claro, a gente está trabalhando a nossa base, revendo o que é possível, o que foi feito de bom, o que eu posso melhorar.
COMUN – SENDO UMA MULHER POLÍTICA, COMO A SENHORA AVALIA A CIDADE DE MANAUS HOJE, O QUE PRECISA?
Tenho algumas ressalvas em relação ao governo do estado, porque viver não é um achismo, é um fato. Eu fui liderança da greve de 2019, ali no primeiro ano do governo Wilson. A educação foi tratada de forma muito ruim já naquele momento e eu te digo isso porque eu estava na liderança. Penso que essa relação com a educação em relação ao governo, o governo precisa cumprir os prazos, o governo precisa cumprir aquilo que é lei. Aquilo que está na data base, a nossa data base, a gente não tinha que fazer greve. Esse ano a gente teve uma greve dos professores que eu não pude participar porque eu optei por estar na escola particular esse ano e você imagina o quanto isso me doeu. Eu tendo participado da greve de 2018, da greve de 2019 e esse ano não pude participar, porque eu estava em outro momento, eu estava no serviço público, mas eu já sabia como é que é a forma que o governo conduz essas negociações. Hoje com a categoria, e não é só com a nossa categoria, é com todo o serviço público. De cumprir com a base, cara, só cumprir com a base, só cumprir com o básico. Então eu penso que primeiro tem que ser feito o básico. Em relação ao prefeito David Almeida, eu particularmente, eu não vou mentir não, eu gosto muito da gestão dele. Tem alguns pontos que são nervosos, e aí o prefeito precisa ser muito maduro pra ele entender que não é pessoal, que é um ponto de vista de uma cidadã. Por exemplo, eu fiz muitas críticas em algumas conduções do Sou Manaus, que é um projeto maravilhoso. Foi um projeto lindo. Mas, eu particularmente, no geral, gosto bastante do governo do David Almeida.
Ouça a entrevista na íntegra:
Jonas Wesley