Empresário no ramo da comunicação e presidente da Associação Nacional do Jornalismo Digital (Anjd), Marcelo Generoso já esteve a frente de movimentos estudantis e participou da luta pela regularidade da meia passagem na capital amazonense. Ele conheceu de perto as máquinas públicas em administrações do ex-prefeito Alfredo Nascimento e Serafim Corrêa.
Ao Comun, Marcelo Generoso fez uma análise sobre legados deixados por veteranos na política e a ascensão de novos personagens no cenário. O empresário também tem analisado quadros políticos em busca de participar do próximo pleito e deixou claro que atualmente quer fazer parte do grupo de David Almeida.
Confira:
COMUN – Como foi o início de trajetória no movimento estudantil? Que saldos você destaca?
Minha trajetória começa lá no Colégio da Polícia Militar do bairro de Petrópolis. Saindo de lá, eu ingressei no Partido da Frente Liberal, no ano de 2000, fui convidado por alguns amigos. Na verdade, eu fui convidado porque eu sempre gostei de política. Meu avô, o Sr. Luís Generoso, sempre foi envolvido com política, ele foi um dos fundadores do Arena, a aliança renovadora do Estado. O Arena, anos depois, tornou-se o PFL, o Partido da Frente Liberal, que agora é o Democratas. Como eu sempre gostei de política, alguns amigos me convidaram para conhecer o PFL, a filosofia, pegar alguns livros e resolvi me filiar. Acabou que eu me filiei, peguei alguns livros, conheci o professor Manoel do Carmo Chaves Neto, o ex-deputado Manoel Alec, que era o presidente do partido, conheci o senador Bernardo Cabral e eles me convidaram para ser o diretor cultural do PFL Jogo. Anos depois, eu fui convidado para ser o vice-presidente e, consequentemente, presidente de exercício do PFL. Nessa época, nos meados de março de 2002, começou novamente a questão da luta pela permanência da meia passagem. Haviam dois grupos: os alfredistas e os amazonistas. O grupo dos amazonistas ,liderados pelo presidente Nelson Azedo e pelo ex-vereador, hoje o deputado estadual, Dr. Gomes, e os alfredistas liderados pelo Carijó e pelo ex-vereador Fabricio Lima. As informações que nos chegaram na época é que o Carijó queria acabar com a meia passagem. Acabou que a gente fez um movimento na frente da Câmara, inclusive com a participação do PT, do PCdo B. Se juntou todo mundo. Como era o meu início, eu ainda não sabia muito sobre essa questão de direita e esquerda. Para mim, todos os partidos eram iguais. Na ocasião, eu discursei na tribuna da câmara, que era na 7 de setembro, eu e o Marcelo Augusto também. A gente juntou um grupo e foi à Câmara tentar defender os interesses dos estudantes. Após o nosso discurso, uma colega nossa disse: olha, o deputado Wallace quer falar contigo. Eu fui no gabinete do Wallace Souza, conversei com ele, e ele falou: olha, estão enganando vocês, isso é política, querem destruir o Alfredo, querem prejudicar o Alfredo e o Carijó não quer acabar com a meia passagem, o Carijó quer acabar com a meia passagem em dinheiro, quer se implementar em Manaus um sistema de bilhetagem. A segurança pública do Estado enfrenta uma crise e aí não tinha mais como a gente controlar isso a não ser diminuir o dinheiro dos ônibus. Naquela época, não era comum os jovens andarem com o celular. Então, conversamos com o Carijó e ele explicou o projeto e acabou que a gente percebeu realmente que estávamos sendo enganados. Carijó nos convidou para fazer parte do Conselho Municipal de Transporte Público, na época.
COMUN – Qual foi a política pública implantada na época em relação a meia passagem?
Carijó convidou eu, Mario Lúcio, Marcelo Maia, Edivar Pacheco, Marcio Pinheiro dos Santos, Rosiane Neves, Edson Pinheiro para compor o Conselho Municipal de Transporte Público de forma gratuita. Para não dizer gratuita, nós recebemos um vale a alimentação da MTU. Eu passei uns dois anos como secretário do Conselho e aí a gente fez várias intervenções. Fizemos uma campanha proibindo usar carteirinha, que eram as pessoas que usavam a carteira do estudante sem ser estudante, porque havia uma fraude e a fraude querendo ou não desequilibra os sistemas econômicos. A gente chegou a pegar em um dia três mil carteiras. No final do mês quase 80, 90 mil carteiras na mão de quem não era estudante. E aí a campanha deu certo, a gente conseguiu tirar de circulação algumas carteiras dessas e aí chegou a bilhetagem eletrônica. A gente participou de todo o processo. Eu fui o relator do Passafácil e fui escolhido na época pelas lideranças do movimento estudantil como relator. Escolhemos a empresa que deveria operar em consonância com a Câmara novamente e com a Prefeitura de Manaus. Nós acompanhamos a instalação, os primeiros testes e deu certo, ou seja, o estudante parou de andar com o dinheiro. Não vou dizer que acabou o assalto, porque o assalto tem até hoje, mas naquela época deu uma reduzida.
COMUN – Fazendo um resgate histórico, na sua análise, que legado personagens como Amazonino Mendes, Arthur Neto e Serafim Corrêa deixaram em suas gestões no município?
O Amazonino é um nome que jamais será esquecido. Ele tem uma história impagável. Foi o cara que mais construiu hospitais no estado do Amazonas, ele conseguiu reestruturar o estado, foi um defensor ferrenho da Zona Franca de Manaus, realmente brigando com estados poderosos como o Rio e São Paulo, batendo de frente com o presidente da República. O legado dele é algo que você não consegue mensurar e fez escola. Alfredo, Omar, Eduardo Braga, enfim, todos passaram pela escola do Amazonino, que veio da escola do Gilberto. São políticos que, se a gente for botar ao pé da letra, não tem como a gente comparar. O Alfredo, até um certo tempo ele foi bom. Ele criou o médico da família, que eu acho que foi um legado dele. O que ele pecou? no Expresso. O Expresso era um projeto magnífico, mas vimos a falha. Primeiro, os ônibus fechados, a janela não podia ser aberta, a coisa começou a não funcionar. E aí, recebeu o nome de “estresso”. Então, foi uma coisa que eu acredito que tenha prejudicado muito o Alfredo e o fato de ele ter deixado a Prefeitura para o Carijó para assumir o ministério. Justamente nessa fase em que os projetos começaram a fracassar. Então, eu penso que o Alfredo paga esse preço até hoje. Já o Arthur Vigílio já tinha sido prefeito em 79. Eu nasci em 79. Dizem que ele foi o bom prefeito. Na época, os que acompanharam ele chamavam ele de prefeito tatu, porque ele só queria cavar as coisas, mandar fazer tubulação. Já havia uma preocupação do Arthur na questão do saneamento básico da cidade. A cidade nova praticamente foi na gestão dele que surgiu. Enfim, ele conseguiu trazer várias linhas pra cá e ampliar, ofertar o maior número de linhas de transporte grupo para os bairros. Então, essa é a primeira etapa. O caso do enteado dele, infelizmente foi uma fatalidade, mas atingiu diretamente a gestão dele e o atingiu pessoalmente também. O Eduardo Braga tem seu legado positivo. Tem o Prosamim, dentre outros, mas vem recorrente de algumas situações de corrupção, essa coisa de ele ser um cara muito ignorante, ser um cara muito truculento, de não aceitar não como resposta. Eu tinha intimidade com ele e já falei: se você fosse 50% do que foi Gilberto, você não perdia uma eleição para o governo. Mas o Eduardo perdeu a eleição para o Wilson. Perdeu para o Wilson, que estava beirando 80% de rejeição. Houve uma reviravolta. Eu particularmente, não acreditava na eleição do Wilson, mas aí eu vi a convenção dele, que foi a maior convenção da história do Estado. Eu só me lembro de convenções como essa na época do Amazonino e do Gilberto, que eram convenções que tinham atração musical. Você trazer uma multidão sem banda, sem nada, sabe? É algo surreal. Então, quando eu vi a convenção do Wilson pensei: tá reeleito. Acabou. Então, assim, fazendo essa análise curta, a gente consegue avaliar de que realmente a população não quer mais o Eduardo. Então, assim, todos eles têm seus erros, seus acertos. Se me perguntar qual o melhor, não há sombra de dúvida que seja o Amazonino. O segundo melhor, eu diria o Artur Virgílio. Acho que o Artur foi um bom prefeito da cidade.
COMUN – Qual a sua avaliação sobre os novos políticos que estão em ascensão?
Vamos lá. O Amon eu cheguei até escrever um artigo sobre ele quando iniciou a disputa pra vereador. Ele disputou o cargo de vereador eu não sabia quem era o Amom. Aí me falaram dele, neto do Chalub. Desembargador Chalub, presidente do Tribunal de Justiça. Aí pense: tá explicado. Agora eu sei quem é. No artigo eu dizia que as pessoas estão criticando porque ele tem estrutura, mas quem está criticando gostaria de ter essa estrutura. Ela não tem culpa de ser neto do presidente do Tribunal de Justiça. De ser enteado do presidente do Tribunal de Contas do Estado de ter uma mãe desembargadora. Se ele tem essa estrutura, que bom. Muitos gostariam de ter. A questão é que hoje o que o Amom faz, a oposição que ele fez ao David e hoje o que ele faz na Câmara Federal é legal, ele é um cara muito inteligente, tem ótimos projetos, nunca condenei isso. Minha crítica com relação ao Amom: Primeiro, ele deu uma entrevista pra mim dizendo que ele não seria candidato a deputado, porque ele teria uma doença e que ele poderia morrer a qualquer momento e o que ele queria era deixar um legado. Ele deixou a entender que ele seria vereador por quatro anos porque ele tinha medo de morrer. Acabou que ele foi candidato a deputado, isso já era esperado. Inclusive deputado federal e eu cheguei a falar no meu programa sobre isso e ele falou que eu estava mentindo. Eu já tinha propagado, que ele tinha dado uma entrevista pra mim e falando que não seria candidato, que ele nunca falou isso. Eu exibi a entrevista e falei: bom, Amom, quem está mentindo? O que você disse pra mim está gravado. Ali ele acabou recolhendo, ele entendeu que naquele momento ele errou, deve ter esquecido que deu essa entrevista pra mim. Mas como eu tenho tudo guardado, a gente tem que falar aquilo que a gente pode provar. Então assim, essa oposição que o Amom faz ou fez, porque ele quer ser candidato a prefeito e esse trabalho que ele faz na na Câmara Federal é muito fácil, pela estrutura que tem por trás dele. Qualquer um de nós faria. Não estou condenando ele por usar. Mas o cara tem que ser franco e dizer que realmente ele teve essa votação porque a família apoiou.
COMUN – Não pensa mais voltar à política, nem se filiar?
Hoje eu analiso muito o quadro e analiso muito a questão dos partidos, porque todos eles terão um vereador eleito, eu acho muito difícil você não ter um partido que não tenha nenhum vereador de mandato, que não tenha nenhum empresário, enfim, é uma eleição difícil porque você vai enfrentar os atuais vereadores que vêm para a reeleição. Você vai enfrentar os deputados estaduais que perderam a eleição querem ser vereador como trampolim para depois ser deputado estadual novamente. Alguns deputados federais que já perderam algumas eleições e empresários, lideranças comunitárias, médicos. Enfim, a eleição de vereador é talvez a eleição mais difícil de todas. Então o que eu avalio hoje? Eu estou avaliando a questão do partido e essa questão de saber com quem eu vou caminhar para prefeito. Eu gostaria de caminhar com o David, não quer dizer que isso não mude, pode ser que isso mude em uma semana, a gente não sabe. Mas se tu me perguntar hoje com quem você gostaria de caminhar, eu te responderia que eu gostaria de caminhar com o David. Então, não sei quais partidos estão com o Davi, aliás até sei alguns mas, não sei se eles permanecem com o Davi. Como eu digo, política muda constantemente. Hoje eu penso, até porque é um pedido dos amigos meus, empresários. Eu estou balançado pelo PL, que é o partido do Alberto Neto, meu amigo, como o Podemos também. Eu tenho uns três ou quatro partidos que eu tenho avaliado muito, mas essa decisão eu só devo tomar a partir do ano que vem.
COMUN – Quais são os desafios a frente da Associação Nacional de Jornalismo Digital?
Entendo que o jornalista é aquele que tem diploma. Ponto. Porque senão, o médico não precisa ter diploma. O advogado não precisa ter diploma. Então, o jornalista é aquele que estudou, se formou. Mas a lei abriu uma brecha. Então, a gente não pode desrespeitar aquele que é jornalista com DRT, com a lei federal. O pessoal mais radical do sindicato, humilhava os colegas em pauta, essas coisas e isso começou a chegar pra mim. Eu tenho muita reclamação com relação a isso. Aí conversando com Moisés Dutra, que é o autor do blog da Amazônia. Ele deu a ideia da gente criar uma associação. Nós criamos a Associação de Blogs e Portais do Estado do Amazonas. Conhecemos o grupo, eles me escolheram como presidente, ponto. Uns dois anos depois, a Cileide montou uma associação e botou um grupo de blogs e portais lá. Só que aí a gente viu que dividido não conseguia resolver muita coisa. Surgiu a ideia de unificar as três associações, que era a minha, a dela e a do Ronaldo Castro. Aí tinha um grupo que não queria que eu fosse o presidente, queria que ela fosse, aí tinha um grupo que queria que o Ronaldo fosse. Então desanimou. Penso que não tem necessidade de estar confrontando os colegas por causa da associação. Eu me afastei, com o meu pessoal, e aí a gente resolveu fundar a Associação Nacional de Jornalismo Digital. E aí os outros começaram a vir pra cá, porque eu consegui ajudar um ou outro da minha forma. Qual é o desafio que eu tenho hoje? É manter o número de blogs e portais que tenham CNPJ, sede, que tenham pelo menos um endereço. Eu comecei na minha casa, então, não posso condenar a pessoa que começa na sua casa. Nosso maior desafio é encontrar os clandestinos. Porque os clandestinos passaram a ser perniciosos no momento em que eles são usados para achacar, para extorquir.
COMUN – Qual é a relação da Associação com outras organizações e sindicatos em Manaus?
Com o sindicato dos jornalistas há um certo distanciamento, porque o Wilson é comunista assumido. Eu sou de direita, mas eu não sou de direita extrema. Eu tenho amigos no PCdB, eu tenho amigos no PT, o Sinésio é meu amigo. O Sinésio conseguiu uma medalha pra mim, indicação dele, e todo mundo sabe da amizade que eu tenho com ele. A gente consegue separar as coisas, distinguir as coisas, você não precisa ser inimigo do outro porque o outro pensa diferente de você ou está num partido diferente de você. O Wilson levou o comunismo pra dentro do sindicato, ele usava o sindicato pra fazer campanha pro Lula e eu achei isso muito errado, nós nunca usamos associação pra fazer campanha pro Bolsonaro, cada um de nós tinha a sua escolha pra fazer. Respeitava. O sindicado nos menosprezava. Quando eu falo nós, eu falo nós, empresários. Eles tinham que se preocupar em ter uma sede boa, que a sede dele estava para cair. O prédio do sindicato, com todo o respeito, é um lixo. Se você passar na frente, você tem medo que ele desabe. Aquele prédio tem muitos anos, você nem sabe se teve alguma reforma. Os eventos do sindicato passaram a ser esvaziados. Os nossos eram lotados. Porque ele não inovou. Eu tentei conversar com o Wilson várias vezes para a gente sentar na mesma mesa. Sempre mandei dizer para ele que não sou contra a luta deles. Eu acho que vocês têm que incentivar o diploma. Eu penso: bom eu tenho que ser exemplo, eu já me formo ano que vem no curso de jornalismo e conversei com a reitoria e nós conseguimos construir um projeto. Hoje a Faculdade de Boas Novas concede desconto de até 40%, 60%, a quem quer fazer o jornalismo por meio da associação. Então o nosso desafio passou a ser esse. Primeiro, conseguir a oportunidade para que esses empresários tirassem o diploma e realmente se tornassem jornalistas diplomados. Segundo, combater a clandestinidade. Terceiro, que também é muito difícil, mas a gente tem tentado encaixar alguns desses blogs importantes, que tem estrutura hoje em contrato com o Governo, com a Prefeitura, com uma empresa privada.
Acompanhe a entrevista na íntegra: