A Amazônia brasileira no pós-período da campanha presidencial está inserida na pauta das negociações mundiais a partir da perspectiva de mudanças reais na forma de conduzir a conservação e a proteção desse bioma. Mais de 40 por cento do território nacional é constituído pela floresta tropical, pela maior concentração de povos indígenas do País, recursos minerais, madeireiros, fármacos, de uma da mais expressivas sociobiodiversidade do planeta Terra.
Dos 34 reconhecimentos iniciais de líderes mundiais ao presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, feitos na noite de domingo, após a confirmação da vitória do candidato petista, dez deles citam as mudanças climáticas como uma das lutas a ser travada pelo governo de Lula em conjunto com governos desses países.
Lula acaba de ser convidado, pelo presidente do Egito, a participar da Conferência das Nações Unidas para o Clima (COP27) a ser realizada, de 6 a 28 de novembro, em Sharm El Sheikh, balneário egípcio. Nesse encontro são aguardados 90 chefes de estado e o Brasil deverá participar com delegação que marque a outra posição do governo brasileiro nessa questão, em oposição a que prevaleceu nos últimos seis anos.
As diversas Amazônias dentro da Amazônia real desafiam o futuro governo brasileiro quanto a tomada de posições firmes, criteriosas e de profunda escuta das vozes amazônicas. Estão em disputa no território amazônico grandes e fortes interesses internacionais, nacionais, regionais e, em menor escala, os locais. Não é um dado novo, historicamente a região é tratada por um agendamento que a ignora como espaço legítimo de vida humana e não humana, de diferentes culturas, de produção de conhecimentos e tecnologias milenares.
Prevalece na Amazônia o efeito perverso e destrutivo de objetificação utilizado para impor projetos e programas pensados noutros lugares que ignoram a complexidade amazônica e, literalmente, insistem em mudar o curso do rio, eliminar a floresta e dizimar os povos indígenas.
O que se coloca a partir do novo governo do Brasil é a retomada de iniciativas capazes de inaugurar iniciativas de libertação da Amazônia dos aprisionamentos à qual tem sido submetida por governos, grupos empresariais-religiosos, políticos em conexão com o que importa aos detentores do grande capital internacional. Caberá ao governo Lula estabelecer o roteiro, estimular a participação direta dos amazônidas no conjunto das decisões que irão ser oficializadas e, da parte das sociedades amazônicas, manter a luta ativa pela garantia de participar, de fazer escutar as vozes.
As outras palavras utilizadas pelos líderes de países e de organizações de representação de blocos de países na saudação a Lula referem-se à “defesa da democracia”, “justiça social”, “humanismo”, “igualdade”, “pluralidade”, “solidariedade” e “liberdade”. O Brasil é chamado a retomar a posição como defensor dessas ideias e desses princípios que, no conjunto, comprometem os atores governamentais com a causa amazônica e à recuperação do Brasil que passa pelo enfrentamento à desigualdade socioeconômica, ao racismo e à tentativa de efetivamente dividir o país.
Por Ivânia Vieira – Jornalista, professora da Faculdade de Informação e Comunicação da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), doutora em Doutora em Processos Socioculturais da Amazônia, articulista no jornal A Crítica de Manaus, co-fundadora do Fórum de Mulheres Afroameríndias e Caribenhas e do Movimento de Mulheres Solidárias do Amazonas (Musas).