Ninguém, absolutamente ninguém, chega a um cargo de confiança do nível de secretário municipal, seja qual for a área, por acidente. É certo que não há um único caminho possível, mas nenhum desses caminhos envolve o acaso. Quase sempre o candidato ao cargo percorre um árduo caminho de trabalho e estudo que o torna apto, gabaritado a ocupar a vaga.
A palavra ocupar não é usada à toa, demonstra necessariamente a transitoriedade do cargo. Quando popularmente se diz que “fulano é secretário” deve-se ler que “fulano está secretário”. Esse e tantos outros cargos públicos não são vitalícios. Por isso, uma hora ou outra, com ou sem justificativa plausível, pode-se exonerar alguém dos cargos dessa natureza, basta o prefeito da ocasião assim decidir.
Na construção dessa decisão de exonerar pesam questões inerentes a pasta ocupada, como desempenho e eficiência, e entra também no jogo a política, que está em tudo e que se movimenta por meio de intrincadas engrenagens de interesses diversos.
A confusão entre “ser” e “estar” leva muitas pessoas que alcançam cargos de secretariado a se perderem. Seja por autoconfiança, seja por prepotência, acabam acreditando que são intocáveis, inamovíveis. Que nada que façam ou quem quer que seja é capaz de tirá-los dos cargos que por hora ocupam. Alguns se perdem frente ao poder temporário e perseguem desafetos, derrubam pontes com seus pares e ficam cegos aos processo políticos que continuam correndo independente de seus devaneios com o poder.
Cargos de confiança, como os do secretariado municipal, são por sua natureza cargos políticos, devem ser ocupados por pessoas com traquejo, que saibam lidar com a situação e a oposição. Que tenham uma visão holística sobre administração pública e trabalhem pelo bem do interesse público.
A saída precoce do ex-secretário municipal de comunicação, Emerson Quaresma, é o retrato de alguém que confundiu o “ser” com o “estar” e que, por vontade própria, se manteve alheio ao processo político que corria ao seu lado. No meio jornalistico a insatisfação com ex-secretário era patente, vez que não atendia seus pares jornalistas. A “torre de marfim”, onde se isolou, o fez acreditar que estava acima dos reles mortais, com quem, até outro momento, dividia as redações, coletivas e corredores.
A amizade com o prefeito, a lealdade de quem acreditou no projeto desde o início, a experiência e competência demonstrada durante a campanha foram imprescindíveis para alçá-lo à Secretaria Municipal de Comunicação, mas não o suficiente para mantê-lo. Ser convidado a se retirar é sempre traumático para quem sai, mas também é sintomático da falta de coordenação entre o que era esperado e o que estava sendo entregue.
Que o novo secretário, o jornalista Israel Conte, anunciado esta manhã pelo prefeito David Almeida, consiga equilibrar as demandas que lhe serão exigidas, algo que Quaresma notadamente não conseguiu. Que mantenha os pés no chão e não deixe o poder transitório subir à cabeça. E que tenha uma gestão marcada pelo diálogo com os diversos atores que compõem o ecossistema de comunicação do município. Desejamos boa sorte!