Laize Minelli
O projeto de ajuda humanitária voltado para Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais ou Transgêneros e Intersexuais (LGBTI), que começou ainda em 2016, ganhou força e deu a Manaus o primeiro abrigo para refugiados do Brasil, além de casa de acolhida para amazonenses.
Criado por seis jovens, com idades entre 23 e 30 anos, formados em diversas áreas de atuação como comunicação, psicologia e letras, a Casa Miga começou em 2016 com o projeto Manifesta LGBT+ e se tornou uma associação que tem como princípio fundamental resguardar os direitos LGBTs na cidade e no Estado. “Decidimos criar o movimento como uma roda de conversa, agregar conhecimento com pautas que esse público se identificasse e dentro disso começamos a perceber que estava faltando algo na cidade como um abrigo que pudesse acolher essas pessoas que foram expulsas de casa ou tiveram que sair por sua orientação sexual e gênero”, conta Bruno Santos, coordenador da Casa e diretor executivo do Manifesta.
Gabriela Vaz, Sebastiana Silva, Vanessa Monteiro e Emílio Felix também embarcaram na ideia ao lado do fundador Gabriel Mota para fundar espaço e foram em busca de doações para levantar os recursos necessários. O orçamento inicial de R$ 100 mil teve que ser reduzido para pouco mais de R$ 10 mil arrecadados com doações da cantora Lorena Simpson, mais festas e uma feijoada.
Com a ajuda do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), a Casa Miga além de acolher amazonenses fora do seio das famílias, passou a ser também uma casa de passagem para refugiados, principalmente LGBTs, que ficam de 30 a 45 dias no local.
A Casa serve como espaço para ressocialização, lá eles recebem apoio psicológico, jurídico, participam de cursos de capacitação, incluindo o curso de português para estrangeiros, para se realocarem profissionalmente.
Atualmente o abrigo está com lotação máxima, oito pessoas ocupam o espaço quatro cômodos de uma residência alugada, no Centro de Manaus, desses sete são refugiados venezuelanos e um é amazonense. Lá eles dividem as tarefas domésticas e seguem regras de segurança que incluem horários, como ajuda para sociabilização.
Triagem
Todos no abrigo são voluntários e participaram de um processo seletivo que ocorreu em outubro, entretanto, Bruno se apressa em explicar que não precisam ter afinidades com a causa LGBT+ para participar, apenas com o humanismo.
“Nós não queremos misturar as coisas. Queremos que as pessoas ofereçam
seus serviços para as pessoas que precisam na Casa, não ao Manifesta. As
pessoas se dispõem a ser voluntários de acordo com a vontade e horário
melhor pra elas”, explica.
As demandas para acolhida são recebidas por meio das redes sociais Facebook e Instagram, posteriormente são encaminhados para o Centro de Referência em Direitos Humanos da Secretaria de Estado de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania (Sejusc), fazem um pré-cadastro, passam por psicólogos e conversas com assistente social para verificar de que forma a Casa Miga pode ajudar.
Doações
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR Brasil) apoiou com a doação de televisão, cama, colchões, ventiladores, máquina de lavar roupa para mobília do lar. Todo o recurso usado veio do projeto financiado pela União Europeia por meio do seu Instrumento de Contribuição para a Estabilidade e a Paz (IcSP).
Sem revelar nomes, Bruno conta que ele e os amigos até chegaram a pedir ajuda das casas legislativas estadual e municipal, mas não tiveram retorno.
No momento, uma campanha circula pelas redes sociais para a doação de alimentos e materiais de higiene. “Recebemos ajuda de perecíveis como arroz, feijão, mas precisamos das proteínas para complementar a alimentação além de materiais de higiene como sabonete, xampu e paste de dentes”, conta.
As palestras com convites a médicos, assistentes sociais surtiram efeito e eles conseguiram apoio do Centro de Referência de Assistência Social (Cras), mas Bruno espera ainda mais:
“Nossa vontade é fazer com que a iniciativa seja conhecida e reconhecida como espaço de política pública, que qualquer cidadão não tenha seu direito violado como LGBT. Não tivemos a ajuda do estado, do município, mas das pessoas fiéis a causa, que admiram e que se dispuseram, essa é uma vitória dessas pessoas”, comenta.
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