Laize Minelli
Estar conectado o tempo todo é uma característica da nova geração que tem nas redes o seu principal meio de comunicação e usa-o como poder de pressão social em favor dos movimentos com os quais se identifica, sensibiliza.
Nesse sentido, a pressão popular aos órgãos públicos e privados passou a viver sob novos moldes. O que antes era feito reunindo um grupo de pessoas e indo às ruas com cartazes nas mãos, agora é feito por meio das redes sociais. A teia de comentários que os internautas tecem é um misto de revolta e curiosidade que desce ligeiramente nas páginas online de sites de notícias e redes sociais digitais.
O que muda com participação virtual?
De acordo com especialista, as redes sociais expõem a necessidade de a população se manifestar, mostrar sua opinião e potencializaram os resultados dessa ação.
Aos olhos do jornalista e Mestre em Comunicação, Antônio Carlos Filho, o fato ocorrido na casa noturna Porão do Alemão, que vitimou uma pessoa e deixou outras três feridas, motiva o debate de questões sociais importantes e serve como um termômetro da indignação da população além de incentivar um momento de união por mudanças.
“A pressão por meio de comentários, divulgação massiva nas mídias é algo natural quando um caso assim choca a população. Isso traz à baila a reflexão do preparo do brasileiro para ter porte de arma. A comunidade como um todo se divide, pois apela para a segurança, as casas de show debatem frequentemente sobre segurança, e utilizar esse espaço público que as redes sociais oferecem é uma forma de mostrar a opinião para os órgãos responsáveis, é a forma livre encontrada para pedir socorro, para pressionar autoridades” disse ele.
O cientista social, da Universidade Federal do Amazonas, Tiago Jataúna, acredita ser normal repercutir casos na internet, mas ressalta que a “descoberta” da violência nas áreas menos pobres é o que ainda faz chocar e dar grandes proporções a determinados fatos e chama a atenção para a seletividade das informações.
“É claro que tem uma dimensão desigual nas informações, existem crimes, aspectos da violência que são mais difundidos quando atingem uma camada social que parece que não está incluída naquela que já é naturalizada como uma camada que existe violência. A violência acontece naturalmente a toda hora, mas a sociedade naturaliza isso e ao naturalizar isso não ganha repercussão. Nós sabemos que policiais matam inocentes nas favelas do Rio de Janeiro, o que também acontece na periferia de Manaus, mas existem casos, como quando atinge um grupo social, que não é retratado como aquele que sofre violência, aí o caso ganha notoriedade, pode-se ver que é uma questão de como noticiar”.
“As mídias sociais como Facebook e o Twitter atingem não só um grande público, como um público muito diversificado e as nessas redes o fluxo de informação corre muito rápido, o que é uma característica atual, o que faz com que alguns casos de repercussão consigam influenciar os tomadores de decisão com relação a temas especifico. A rede social é uma esfera pública virtual e que influencia bastante o processo decisório sobre alguns temas” finalizou Jataúna.
Como resultado de todo o rebuliço de informações posterior ao crime, veio a público o histórico agressivo e de envolvimento em outras brigas de Gustavo, e o questionamento sobre o motivo de ele ainda estar com permissão para porte de arma mesmo com todos os relatos anteriores. Os sistemas competentes foram então pressionados a dar uma resposta rápida e satisfatória, diante da pressão social feita pelo meio virtual.
A corregedora geral do Sistema de Segurança Pública, Iris Trevisan, afirmou que o delegado pode, inclusive, perder o cargo que ocupa no sistema público. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-AM) pediu providências para vetar o direito de porte de arma de fogo não somente para delegados como também para todos os demais agentes da Polícia Civil, que estejam fora do serviço.
Em seu site, a OAB informou ainda, que a prisão preventiva foi determinada para garantir a ordem pública, “diante da gravidade concreta das infrações penais apuradas pela autoridade policial e da repercussão e clamor social ocorridos na cidade de Manaus (…) inclusive com ampla divulgação na mídia e redes sociais”.
Outra medida tomada, veio da Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM), que anunciou já no domingo (26) que vai desenvolver um sistema tecnológico para monitorar quem entra armado em bares na capital.
O vereador Chico Preto (PMN) apresentou na manhã da segunda-feira (27), o Projeto de Lei (PL) 347, que pede a proibição de venda de bebida alcoólica para pessoas armadas. “Há uma demanda muito grande por justiça, as pessoas vão no meu Facebook e perguntam o que a Câmara pode fazer, então é preciso se posicionar, como não temos como deixar policiais desarmados, porque isso enfraqueceria o poder deles, que são o filtro entre a sociedade e a bandidagem, temos que achar formas de controlar” enfatizou.
Em prol da paz nas casas noturnas de Manaus, a equipe do Porão do Alemão também reuniu diversas outros empresários e bandas de rock na noite da quarta-feira (29) para um show que propagou música, pedidos de união e o fim da violência.
Deixe um comentário