Michelle Portela
Formada pelo Liceu de Artes e Oficio Claudio Santoro na turma de formação artística em artes cênicas de 2002 e com Curso de formação de Contadores de Historias também no Liceu de Artes e Oficio Claudio Santoro, a socióloga Ariane Feitoza foi consagrada como melhor atriz por duas vezes no Festival de Teatro da Amazônia com atuações em peças infantis. Mas perdeu quando foi indicada pela peça Coisas para Depois da Meia Noite, do direto Denis Salles, encenada em 2011 nos já mitológico palco do TESC – Teatro do Sesc, no centro de Manaus. Abaixo, ela responde três perguntas sobre aquela experiência.
COMUN: A nudez ainda incomoda?
Ariane: Penso que não seja a nudez em si que incomoda. Mas sim a audácia de ficar nu, isso falo de quando estamos em público. As pessoas se vestem com máscaras que não precisa existir, visto que o nu na maioria das criações – pelo menos naquela foi -, é algo normal, prático e simples. Quem nunca ficou nu na frente do irmão, primo, pai ou mãe quando estava indo tomar banho e essas pessoas estavam em casa? Talvez a “disponibilidade” é o que incomoda as pessoas em geral. Porque o estético fala mais alto. Nessa peça que fiz, por exemplo, um amigo teve o mesmo convite e recusou por causa do nu (e também pela religião dele), mas acho que o nu pesou mais porque ele disse que estava acima do peso. Acredito que é isso que incomoda mais. A farsa do que só o que é “bonito”, aos olhos de quem julga, que tem que se mostrar.
COMUN: Você ficou nua no palco em Coisas para Depois da Meia Noite. Como essa experiência te marcou?
Ariane: Foi uma experiência incrível! E um processo bem longo. Lembro que só quando estávamos próximos da estreia que pedi pra aí começar a tirar a roupa. Sendo que outros do elenco já tiravam naturalmente desde o princípio dos ensaios. Lembro que nas últimas três semanas eu usei o seguinte método: na terceira semana antes, nos ensaios, tirei apenas a blusa. Na segunda semana antes, tirei já blusa e short e ensaiava de calcinha e sutiã. E na ultima semana antes de estreia, tirei a parte de cima apenas. A calcinha mesmo só tirei no dia da peça. Foi assustador pra alguns amigos da plateia. Logo eu, que pouco tinha feito de teatro adulto e vinha de uma vasta atuação em peças infantis. Mas eu adorei. Fui criticada? Lógico! Mas também fui elogiada na maioria das críticas. Recebi cartas de diretores daqui que são super críticos, e ainda a indicação de melhor atriz no Festival de Teatro da Amazônia pelo papel. Foi maravilhoso!
COMUN: Como você avalia o momento de visibilidade das artes que vivemos, com tanta influência de um discurso censurador?
Ariane: Acredito que o teatro é a arte que menos “sofre” com esse boicote. Mas, opa, detalhe: menos sofre quando tá fechada na caixa do teatro italiano. Nas manifestações na rua, por exemplo, é o “indigno” que prevalece. O teatro é a arte do ator. Ele é quem dá a cara pra bater. Lógico que as críticas, matérias midiáticas sempre irão sair com destaque ao senso comum, tipo: “artista é preso por tirar a roupa em praça pública”! Não há um filtro que as pessoas possam ter que aquele trabalho foi pensado, estudado, ensaiado… pra estar ali. Se torna simplesmente um homem nu na praça. E o pior, os poucos que patrocinam a arte nesse pais são os primeiros a se esconder diante de situações como essas. Não querem ligar suas marcas ao que é polêmico, “censurado”. Mas o mais foda ainda são as exclusões. Exclusão ao negro, a sexualidade, a desconstrução de uma forma geral! Lutemos então por coragem dos que produzem e dos que financiam arte em todas as suas manifestações.
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