William Abreu*
O Governador Amazonino Mendes tomou recentemente posse de seu quarto mandato a frente do Executivo Estadual. Antes, foi três vezes prefeito de Manaus e uma vez Senador da República pelo Amazonas. É um currículo invejável e a experiência desses anos de vida pública foi fator fundamental para convencer parcela da população a elegê-lo. Atravessamos uma crise econômica e política, não era prudente escolher um candidato sem experiência. E foi essa leitura que a população fez. Durante a campanha foi adotado o mote da necessidade de “arrumar a casa” e “reconstruir o Amazonas”. Pela experiência, era ele o candidato ideal para essa tarefa. Criou-se, ao fim, o jargão “AMA”. Teríamos um governo baseado no amor ao Estado e seus cidadãos. E assim foi eleito um homem experiente, que ama seu estado e seu povo e que tem como missão principal arrumar a casa e reconstruir o Amazonas
Faço esse apanhado não a toa, mas sim para embasar a reflexão que farei sobre o programa “Todos Pelo Amazonas” que foi lançado no sábado, dia 14 de outubro, cuja primeira edição foi realizada no Centro de Convivência Padre Pedro Vignola, localizado na Cidade Nova I, Zona Norte. Ao longos dessas últimas semanas a “festa” de reconstrução do Amazonas já foi reeditada.
O programa é uma iniciativa encabeçada pela Secretaria de Estado de Segurança Pública – SSP/AM e o Fundo de Promoção Social e Erradicação da Pobreza – FPS e consiste em levar as diversas zonas da cidade serviços das secretarias estaduais, geralmente oferecidos em suas sedes, nos PACs e em outras estruturas que os Estado possui. É uma iniciativa grande, que conta com a apoio da Secretaria de Estado de Assistência Social – SEAS; da Secretaria de Estado de Cultura – SEC; do Centro de Educação Tecnológica do Amazonas – CETAM; da Secretaria de Estado de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania – SEJUSC; da SSecretaria de Estado de Juventude, Esporte e Lazer – SEJEL; da Secretaria de Estado de Educação e Qualidade de Ensino – SEDUC; entre outros órgãos da administração pública.
Dos diversos serviços oferecidos pelo programa temos: corte de cabelo, emissão de documentos, atendimento médico, atendimento jurídico, oficinas e atividades profissionalizantes, palestras, atividades artísticas e culturais, atividades esportivas, atividades lúdicas e de lazer, e outros mais.
Ou seja, o programa “Todos Pelo Amazonas” levará aos bairros serviços do governo do Estado, que geralmente estão centralizadas em um ou em poucos locais. Mas até aqui, não há nenhuma novidade. De 2008 a 2012, na gestão do então prefeito Amazonino Mendes, esse tipo de atividade também foi realizada mas com o nome de “Prefeitura nos Bairros”. E tantos outros governantes fizeram programas idênticos em seus mandatos, com os mais diversos nomes, mas com a mesma metodologia de aglutinar serviços públicos.
Se de 2008 a 2012 não se conseguiu resolver os problemas sociais da capital com corte de cabelo e emissão de documentos, o que faz nosso gestores pensarem que, em pleno 2017, em meio a crise que estamos passando, se conseguirá resolver os problemas sociais, de um estado de dimensões continentais como o Amazonas, com esse tipo de ações paliativas?
Sinceramente, não sei o que pensam, mas o fato é: NÃO RESOLVERÁ! E o pior de tudo, quem fomenta essas ações sabe da impossibilidade de resolver, mais ainda assim insiste nesse tipo de atividade para criar manchete de jornal e vender à população a falsa ideia que algo de útil está sendo realizado.
Para ficar claro, vou exemplificar:
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Emissão de documentos não resolverá o problema da criminalidade e da violência crescente em nosso Estado, muito menos criará vagas de emprego à nossa população;
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Oficinas e atividades profissionalizantes com carga horária de apenas algumas horas não capacitarão nossos jovens para o mercado de trabalho;
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Palestras sobre empreendedorismo sem que se dê linha dê crédito aos futuros empreendedores é o mesmo que nada;
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“Aulão na Rede” da SEDUC não apagará o deficit educacional e a evasão escolar dos nossos estudantes e muito menos eliminará a remuneração deficitária nem as péssimas condições de trabalho dos nossos educadores, seja na capital e, principalmente, nos interiores;
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Os atendimentos médicos nesse evento não diminuirão as gigantescas filas existentes para as várias especialidades que o Estado tem a obrigação de disponibilizar e o não faz.
Nada do que está sendo oferecido é inovador. Vejo como um circo que é montado e desmontado, sem, ao fim dos trabalhos, alcançar o objetivo que justificou sua criação. Não estou dizendo que não são úteis as atividades do programa em análise. De certo ajudará vários cidadão, mas poderiam pensar em formas mais inteligentes de atender essas demandas como, por exemplo, oferecendo esses serviços nos seus locais de origem em horários alternativos.
Contudo, senhoras e senhores , dizer que “essa proposta marca o início de uma nova abordagem de combate à violência em nossa cidade” como a presidente da FPS, Mônica Mendes, declarou em reportagem do Portal Acrítica veiculada no dia 12 de outubro, é muita inocência ou muita ignorância, mas em ambos os casos é, sem dúvida, uma agressão a nossa inteligência. Será que uma atividade que será realizada de forma esporádica terá todo esse poder?
É claro que não. A violência faz parte de um conjunto complexo de mazelas sociais e seu combate se dá através de políticas públicas eficientes nas áreas da educação, cultura e esporte; com distribuição de renda; com a promoção de novas matrizes econômicas; com o fomento ao pequeno e ao micro empresário; com geração de trabalho, emprego e renda nos interiores; com a criação de oportunidades aos jovens e, principalmente, com a aplicação correta dos recursos destinados a execução dessas políticas públicas.
A sra. Mônica Mendes, presidente de honra da FPS, que conta com um orçamento anual de aproximadamente 20 milhões, poderia divulgar as política públicas que serão adotadas no próximo ano para promoção social e erradicação da pobreza. Essas atividades da FPS, sim, teriam o condão de combater o avanço da violência, ao retirar da vulnerabilidade social milhares de amazonense que vivem de forma indigna, não permitindo que a criminalidade se torne uma das únicas opções para sua subsistência.
Espero que secretários estaduais jovens como a srta. Janaína Chagas da Sejel e o sr. Denilson Novo da Sec não sucumbam a facilidade de recauchutar programas e projetos ineficientes. Que tenham a altivez de rechaçar ideias como essa. Que apresentem projetos que combatam a causa dos problemas e não apenas enfrentem os seus sintomas. Que façam as ações chegarem àqueles que necessitam do apoio do Estado, sem demagogia.
Espero que o senhor Governador – ciente da responsabilidade que carrega e das necessidades da população – não permita que gestores medíocres enxovalhem seu governo. E realmente espero que não repita os mesmo erros de mandatos anteriores. Para reconstruir o Amazonas precisamos ir muito além de cortar cabelos e emitir documentos. Precisamos de homens e mulheres com espírito público, que consigam pensar fora da caixa e implementar, de forma integrada com outras secretarias, políticas públicas permanentes que promovam a cidadania e a dignidade aos nossos cidadãos.
*Vereador de Manaus pelo PMN
Obs: O artigo assinado é de inteira responsabilidade do seu autor, não refletindo necessariamente o ponto de vista do Comun.